Uma das “maiores” e “mais extraordinárias” trocas de prisioneiros da História Moderna. Foi assim que a Turquia anunciou nesta quinta-feira o sucesso da operação envolvendo 24 prisioneiros — mais dois menores que estavam com os pais — de sete países, entre eles um jornalista americano detido desde março de 2023 em território russo depois de ser julgado e condenado a 16 anos de prisão por suposta espionagem.
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O envolvimento de Ancara numa negociação deste tipo não é novidade: o país, uma antiga potência otomana que liga Ocidente e Oriente, é conhecido por manter uma “política de equilíbrio” como pilar de sua política externa, mesmo em contextos de conflito.
A Turquia é considerada por analistas uma potência média que exerce papel fundamental na competição entre a Rússia e o bloco ocidental, entendido principalmente como a União Europeia (UE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos.
Apesar de ser membro da Otan e manter relações econômicas de alto nível com a UE (sem mencionar seu status oficial de candidatura desde 1999), o país tem bom trânsito com Moscou, em parte devido ao relacionamento próximo entre o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu homólogo russo, Vladimir Putin.
“A Turquia pode ser considerada um Estado oscilante”, afirma Pelin Ayan Musil, pesquisadora sênior do Instituto de Relações Internacionais de Praga, em artigo publicado em março.
Veja fotos do jornalista americano Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal, detido pela Rússia
Segundo ela, a Turquia “frequentemente se desviou dos padrões perseguidos por seus aliados ocidentais sem se alinhar totalmente com a Rússia”, escolhendo empregar uma “estratégia de intermediário” para extrair “benefícios de ambos os lados”.
Em uma entrevista que deu em setembro de 2023, o presidente Erdogan, há mais de 20 anos no poder, resumiu sua posição na política externa:
— Nos últimos 50 anos, estivemos esperando na porta da UE e, neste momento, confio no Ocidente tanto quanto confio na Rússia.
Em julho de 2022, a Turquia mediou o primeiro acordo entre Ucrânia e Rússia desde o início da guerra com o objetivo de permitir a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro após meses de bloqueio que elevaram os preços dos grãos e motivaram alertas de uma crise alimentar global.
Ancara também tem papel-chave nos esforços de mediação na guerra em Gaza que envolvam o Hamas. O país recebe altos integrantes do grupo palestino que controla o enclave e não o classifica como terrorista, como já faziam Israel e as potências ocidentais mesmo antes dos ataques terroristas de 7 de outubro.
A troca de prisioneiros desta quinta-feira é uma das "maiores" e "mais extraordinárias" da História Moderna, não apenas pelo grande número de prisioneiros e pelo número de países envolvidos, mas levando em consideração principalmente as relações entre as nações do Ocidente e a Rússia — as piores desde o fim da Guerra Fria, em 1991 —, pontuou a rede BBC. O acordo teria mostrado que, apesar das tensões, as agências de inteligência dos países seguem mantendo contato. A última grande troca ocorreu em 2010, quando 14 prisioneiros foram libertados.