Líder do Hamas é sepultado no Catar em meio a temores de escalada regional

Corpo de Ismail Haniyeh será enterrado na cidade de Lusail após cerimônia na mesquita Imam Muhammad bin Abdul Wahhab, a maior do país

Por AFP — Doha, Catar


Milhares de pessoas participam de cerimônia de sepultamento do líder do Hamas Ismail Haniyeh em Doha, no Catar. Mahmud Hams / AFP

Milhares de pessoas acompanharam, nesta sexta-feira, o sepultamento do líder do Hamas Ismail Haniyeh em Doha, capital do Catar, cidade onde ele morava junto a outros líderes do grupo que governa Gaza. Haniyeh morreu na madrugada de quarta-feira em um ataque em Teerã, capital do Irã, atribuído a Israel.

O corpo do líder político chegou pela manhã à mesquita Imam Muhammad bin Abdul Wahhab, a maior do país. A cerimônia ocorre em meio a temores de uma resposta iraniana e de seus aliados e a uma escalada regional do conflito na região.

Milhares de pessoas rezam perto da Mesquita Imam Muhammad bin Abdul Wahhab durante as orações finais de Ismail Haniyeh, líder do Hamas, em Doha, no Catar. — Foto: Mahmud Hams / AFP

Após a cerimônia na mesquita, Haniyeh será enterrado em um cemitério em Lusail, cidade ao norte de Doha. O Hamas anunciou que "líderes árabes e islâmicos", assim como representantes de outros grupos palestinos, iriam comparecer ao evento, aberto ao público.

Haniyeh e um de seus seguranças morreram na madrugada de quarta-feira em um ataque contra a residência em que estavam em Teerã, informou a Guarda Revolucionária do Irã. O dirigente, exilado entre Catar e Turquia, estava no país para a cerimônia de posse do presidente iraniano, Masud Pezeshkian.

Segundo a imprensa iraniana, Haniyeh teria morrido em um ataque executado com um "projétil aéreo". Porém, o jornal americano The New York Times, que ouviu cinco fontes de países do Oriente Médio sob a condição de anonimato, afirma que a morte teria sido causada pela explosão de uma bomba que estava escondida há dois meses na residência.

O Hamas e o governo do Irã atribuíram o ataque a Israel, que não fez qualquer comentário direto sobre a morte. O país reivindicou algumas horas antes um bombardeio contra Beirute, capital do Líbano, que matou Fuad Shukr, comandante militar do movimento libanês Hezbollah, aliado do Hamas.

O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, afirmou na quinta-feira que o ataque no Líbano foi o único efetuado por seu país na madrugada de quarta-feira no Oriente Médio. Mas os acontecimentos inflamaram as tensões em uma região onde a guerra na Faixa de Gaza aumentou consideravelmente as hostilidades entre Israel e os movimentos armados próximos ao Irã na Síria, Líbano, Iraque e Iêmen.

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Resposta ‘inevitável’

O corpo de Haniyeh, de 61 anos, foi transportado de um necrotério até a mesquita de Doha antes da grande oração de sexta-feira, o dia mais importante da semana na tradição islâmica. O caixão estava protegido por um cordão de segurança.

Milhares de fiéis se reuniram no local com bandeiras da Palestina. Na Turquia e no Paquistão, foi decretado um dia de luto nesta sexta-feira em memória de Haniyeh, e o Hamas prometeu um "dia de raiva furiosa" para coincidir com o enterro.

O movimento convocou "marchas furiosas (...) a partir de cada mesquita" após as orações. O enterro de Haniyeh acontece no momento em que o Irã e seus aliados preparam uma resposta coordenada contra Israel.

Protesto em Quetta, Paquistão, nesta sexta-feira contra o assassinato do líder do Hamas Ismail Haniyeh. — Foto: BANARAS KHAN / AFP

O líder do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, alertou na quinta-feira que é "inevitável" que o movimento responda ao bombardeio israelense de terça-feira em Beirute. Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que o país está preparado "para qualquer cenário, tanto defensivo como ofensivo".

Netanyahu prometeu destruir o Hamas em resposta ao ataque de 7 de outubro contra o Sul do país, que desencadeou a guerra em Gaza. Durante o ataque, 1.197 pessoas morreram, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses. Outras 251 foram sequestradas.

O Exército israelense afirma que 111 dos reféns permanecem em cativeiro em Gaza, mas que 39 estariam mortos. A resposta militar de Israel contra Gaza desde então já deixou 39.480 palestinos mortos, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

Protesto em Lahore, Paquistão, nesta sexta-feira contra o assassinato do líder do Hamas Ismail Haniyeh. — Foto: Arif ALI / AFP

‘Preço muito elevado’

Milhares de pessoas compareceram nesta quinta-feira ao funeral público em homenagem a Haniyeh em Teerã, uma cerimônia comandada pelo líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que prometeu um "castigo duro" para Israel.

Os rebeldes huthis do Iêmen, também aliados do Hamas, prometeram uma "resposta militar" à "perigosa escalada" provocada, segundo eles, por Israel.

O Catar abriga o gabinete político do Hamas com a aprovação dos Estados Unidos desde 2012, quando o grupo palestino fechou sua representação em Damasco. Haniyeh tinha um papel crucial nas negociações para um possível acordo de trégua em Gaza, nas quais Catar, Egito e Estados Unidos atuam como mediadores.

Mas o processo permanece em dúvida após a morte. — Como uma mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador da outra parte? — questionou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahman al Thani.

A comunidade internacional pediu calma e insistiu nos apelos por um cessar-fogo em Gaza que, segundo Haniyeh, estaria sendo bloqueado por Israel.

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