Parte dos prisioneiros americanos e russos envolvidos no maior acordo entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria desembarcaram entre a noite de quinta e a madrugada de sexta-feira em seus países de origem, concluindo a última etapa de uma delicada operação logística e diplomática. Recebidos pelos presidentes Joe Biden, nos EUA, e Vladimir Putin, na Rússia, cada grupo foi apresentado por seus governos como uma vitória no plano internacional.
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O jornalista do The Wall Street Journal, Evan Gershkovich, o ex-fuzileiro naval e Paul Whelan e a jornalista Alsu Kurmasheva chegaram ainda na noite de quinta-feira (00h40 de sexta em Brasília) na base aérea militar Andrews, perto de Washington. O trio foi recebido por Biden e pela vice-presidente Kamala Harris, que está em campanha pela Casa Branca. Um quarto prisioneiro libertado, Vladimir Kara-Murza, um crítico russo do Kremlin com residência nos Estados Unidos, também está entre os libertados, mas retornará de maneira separada aos EUA.
Prisioneiros envolvidos em troca entre EUA e Rússia são recebidos por Biden e Putin em Washington e Moscou
Em um comunicado, Biden chamou o acordode "façanha diplomática", dizendo também aos prisioneiros e suas famílias que a "agonia acabou".
No Leste da Europa, o presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o grupo de prisioneiros russos no aeroporto Vnukovo, em Moscou. Dez russos, incluindo dois menores de idade, foram trocados por 16 ocidentais e russos detidos na Rússia e em Belarus.
— Quero felicitá-los pelo seu retorno à pátria — declarou Putin ao receber o grupo em Moscou.
O Kremlin também expressou seu "agradecimento aos líderes de todos os países que ajudaram a preparar o intercâmbio", sem entrar em detalhes, e indicou que Putin concedeu indulto aos prisioneiros liberados no âmbito do acordo.
Agente do FSB
Na manhã desta sexta-feira, o Kremlin confirmou que Vadim Krasikov, um dos cidadãos devolvidos à Rússia como parte da troca, é um agente do Serviço Federal de Segurança do país (FSB), sucessor da KGB.
— Krasikov é um agente do FSB — afirmou Dmitri Peskov, principal porta-voz do Kremlin, durante uma coletiva de imprensa.
Condenado à prisão perpétua na Alemanha, pelo assassinato de um líder separatista checheno em Berlim, Krasikov era um dos principais alvos russos para repatriação no exterior. Sua soltura exigiu que os aliados ocidentais superassem uma série de resistências internas, com o governo alemão admitindo que aceitar liberar Karsikov não foi uma "decisão fácil".
Apesar da negociação representar uma rara vitória da diplomacia no momento de maior tensão entre Rússia e Otan, ela não deve significar uma abertura em outras frentes, segundo a falas em Moscou e Washington.
— Se falarmos sobre a Ucrânia e problemas internacionais mais complexos, há princípios completamente diferentes — disse Peskov. — O trabalho lá é conduzido de um modo completamente diferente.
Na quinta, Biden foi questionado por jornalistas se estaria disposto a conversar diretamente com o presidente russo após a troca. A resposta foi curta: "Não preciso conversar com Putin". (Com AFP)