Pelo menos 150 pessoas foram presas no Reino Unido nos últimos dias, em meio a uma onda de protestos violentos incentivados pela extrema direita. Os distúrbios, muitas vezes direcionados contra mesquitas ou locais de alojamento para migrantes que solicitam asilo, começaram depois que influenciadores da ultradireita espalharam informações falsas nas redes sociais sobre a suposta nacionalidade e religião de um adolescente britânico que matou três meninas de 7 a 9 anos há uma semana.
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Um mês após assumir o poder, o governo trabalhista do primeiro-ministro Keir Starmer enfrenta a sua primeira crise e tenta convencer o país de que é capaz de conter as ações violentas. O tema é sensível, já que, durante a campanha, conservadores acusaram Starmer de ser brando com questões de segurança e imigração.
— Eu garanto que vocês vão se arrepender de participar dessa desordem. Seja diretamente ou aqueles que estão provocando a ação online e depois fugindo — disse Starmer ontem, em um duro discurso na TV, onde chamou os protesto de “banditismo da extrema direita” e promoveu levar seus organizadores à Justiça.
Mesquitas atacadas
Questionada sobre a possibilidade de recorrer ao Exército, a ministra encarregada da polícia, Diana Johnson, assegurou que as forças “têm todos os recursos necessários”. O superintendente de polícia Alex Goss classificou o comportamento dos manifestantes como “deplorável”.
Organizadas sob o lema “Enough is enough” (“Basta”), os protestos começaram na sexta-feira. Ontem, no quarto dia de protestos, manifestantes atiraram tijolos, garrafas e sinalizadores nos agentes de segurança — ferindo vários policiais —, enquanto saqueavam e queimavam lojas, gritando insultos anti-islâmicos. Na sexta-feira, mesquitas e uma delegacia foram atacadas; instalações comunitárias em todo o país, incluindo uma biblioteca, foram incendiadas.
— As pessoas estão cansadas de ouvir que deveríamos ter vergonha de sermos brancos e da classe trabalhadora — disse Karina, de 41 anos, à AFP no último sábado.
O país não via uma explosão de violência similar desde 2011, quando o jovem mestiço Mark Duggan foi assassinado pela polícia de Londres. Embora as condenações à violência sejam unânimes, com o passar dos dias, começam a surgir críticas contra o governo. A ex-ministra conservadora do Interior, Priti Patel, disse que o governo “corre o risco de parecer arrastado pelos acontecimentos em vez de manter o controle”.
O estopim para a violência foi um ataque perpetrado por um adolescente britânico, que invadiu uma aula de dança e esfaqueou as crianças que estavam no local, há uma semana. Seu nome não havia sido divulgado por ele ser menor de idade — segundo a legislação local, a polícia só poderia revelar sua identidade depois que ele fizesse 18 anos.
Identidade revelada
Mas, em meio a falsos rumores sobre a nacionalidade e religião do agressor, um juiz decidiu tomar a decisão, considerada “excepcional”.
Axel Rudakubana, 17 anos, nasceu em Cardiff, e é filho de ruandeses. Na última sexta-feira, Rudakubana esfaqueou 11 crianças em Southport, a cerca de 30 km de Liverpool. Três delas morreram: Bebe King, de 6 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7, e Alice da Silva Aguiar, de 9. Dois adultos, atacados enquanto “tentavam proteger as crianças” e mais cinco crianças ainda estão hospitalizados em estado grave.