Por Editorial

A opinião do GLOBO.

Brasil necessita de política nacional para explorar lítio

Mineral estratégico para fabricação de baterias está na origem de disputa pela energia do futuro

Por Editorial


Exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais Divulgação

A demanda por veículos elétricos, essenciais para reduzir as emissões de carbono, tem feito explodir a procura pelo lítio, componente básico para todo tipo de bateria. A América Latina detém mais da metade do lítio já identificado, concentrado num triângulo formado por salinas na Argentina, na Bolívia e no Chile. Os três países controlam pouco mais de 60% dos 98 milhões de toneladas encontradas até agora no planeta.

Na produção de carbonato de lítio, o mineral processado, o domínio é outro: a China responde por 61%, seguida de Chile (30%) e Argentina (9%), segundo o Center for Strategic and International Studies (CSIS). Com o controle que mantêm sobre os demais minerais necessários para fabricar as baterias, os chineses produzirão em 2030 o dobro dos outros países somados, segundo previsão publicada no jornal The New York Times.

Os Estados Unidos têm manifestado preocupação a cada dia maior com as cadeias de suprimento de lítio e minerais especiais, conhecidos como “terras raras”, também usados na indústria de defesa. Não passou despercebida, no auge da guerra comercial com a China, uma visita oficial do líder chinês, Xi Jinping, à província de Jiangxi, conhecida pelas reservas desses minerais.

O que não encontra em seu território, a China busca no exterior. Cerca de 60% do cobalto, outro mineral estratégico para fabricar baterias, tem origem em fundições sob influência de chineses na República Democrática do Congo, onde anos atrás capturaram dos americanos o controle da maior mina de cobalto do mundo. Tudo somado, a China domina 72% da capacidade mundial de refino de cobalto. E cerca de 75% desse cobalto é destinado à fabricação de baterias de lítio.

É clara a estratégia chinesa de controlar mercados de minérios e materiais especiais que tendem a ser cada vez mais usados na transição do mundo para fontes limpas de energia. Os Estados Unidos se movimentam para reduzir o domínio chinês pelo menos desde 2010, quando o presidente Barack Obama criou um grupo de trabalho para mitigar os riscos da dependência do fornecimento de “minerais críticos”. Em dezembro daquele ano, a China embargou as exportações de terras raras ao Japão em razão de disputas territoriais entre os dois países. Donald Trump chegou a declará formalmente essa dependência um assunto de “emergência nacional”.

No mês passado, o governo de Minas Gerais fez uma ação de marketing ao lançar na Nasdaq, Bolsa americana de empresas de tecnologia, o “Vale do Lítio”, uma região de 14 municípios onde há reservas do mineral. Na realidade, o Brasil mal sabe a extensão ou a localização de suas reservas, mas, dado o exemplo dos vizinhos, é provável que sejam mais abundantes que o conhecido. É necessário formular com urgência uma política de exploração do lítio, com apoio de empresas privadas nacionais e internacionais. O país não pode perder o salto tecnológico.

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