Arminio declara voto em Lula: 'Vejo ameaça e maiores riscos com a concentração de poder nas mãos do atual presidente'

Ex-presidente do BC diz ao GLOBO que petista precisa ser mais claro sobre seu plano para a economia se eleito e apontar um ministro da Fazenda com estilo parecido ao de Palocci

Por Alexandre Rodrigues — Rio


O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga CJPress / Agência O Globo

O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga afirmou hoje que não pensa em voto em branco no segundo turno das eleições presidenciais. Ele, que já havia se engajado na campanha de Marcelo Freixo (PSB), derrotado na disputa pelo governo do Rio no primeiro turno, decidiu declarar voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Crítico da política econômica adotada nas gestões petistas, particularmente na de Dilma Rousseff, e na de Jair Bolsonaro (PL), Arminio avalia que, diante das duas opções oferecidas aos brasileiros agora, é melhor eleger Lula para proteger a democracia e afastar a possibilidade de um segundo governo do atual presidente, com danos não só à economia, mas a áreas estratégicas vitais para o país como o meio ambiente.

Arminio fez inicialmente sua declaração de voto ao jornal O Estado de S. Paulo. Em entrevista ao GLOBO por e-mail, o cofundador da Gávea Investimentos diz não compartilhar da reação positiva do mercado financeiro às melhores condições em que Bolsonaro chega ao segundo turno e evita responder diretamente se aceitaria participar de um governo Lula.

O economista que liderou o Banco Central no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e foi o principal assessor econômico da candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB) em 2014, acredita que Lula precisa dizer de forma mais clara o que pretende na economia e escolher um ministro da Fazenda com estilo parecido ao de Antonio Palocci, primeiro ocupante do cargo no governo do petista: um perfil político e técnico, que seja próximo ao presidente e cercado de uma equipe competente. Leia a seguir a entrevista.

O que motivou sua decisão de declarar voto em Lula neste momento? Vê alguma ameaça à liderança dele neste segundo turno?

Eu já tinha declarado que não votaria no atual presidente, optando por Lula em caso de disputa apertada. Vejo ameaça e, com os resultados de domingo, maiores riscos com a concentração de poder nas mãos do atual presidente.

Como recebeu o resultado da eleição, com um percentual mais alto para Bolsonaro do que as pesquisas mostravam, e a reação do mercado, com alta da Bolsa?

Não compartilho o otimismo. De qualquer maneira, não estou votando de olho no mercado. Penso nos grandes temas institucionais da nação.

O que acha que Lula precisa apresentar neste segundo turno em termos de propostas econômicas para ganhar votos dos indecisos e vencer?

Mais clareza do que ele faria se eleito.

Por que, na sua avaliação, um segundo governo Bolsonaro não é a melhor opção?

Falta apreço por temas qualitativos cruciais como o apreço pela democracia, pela ciência, pelo meio ambiente.

Agentes econômicos cobram de Lula a apresentação de uma equipe econômica. O senhor cogitaria integrar um futuro governo Lula comprometido com uma visão parecida com a sua quanto à gestão da economia e das contas públicas?

Não fui sondado e não creio que serei. Modelo Palocci seria o melhor: ministro próximo do presidente, equipe competente.

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