Empresa do agronegócio do RS diz que vai 'reduzir produção' caso Lula vença as eleições

Carta enviada aos fornecedores diz que companhia reduzirá a base orçamentária em 30%; presidente diz que não haveria demissões

Por Letícia Messias, Ricardo Pinheiro e Ivan Martínez-Vargas — Rio de Janeiro e São Paulo


Empresa disse que reduzirá sua base orçamentária em 30% caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições no 2º turno Reprodução / Redes sociais

Fabricante de máquinas agrícolas e tradicional no agronegócio do Rio Grande do Sul, a Stara enviou uma carta aos seus fornecedores nesta segunda-feira informando que reduzirá a base orçamentária em 30% caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições no 2º turno.

O documento, assinado por Fabio Augusto Bocasanta, diretor administrativo financeiro da empresa, afirma que “diante da atual instabilidade política e possível alteração de diretrizes econômicas no Brasil após os resultados prévios do pleito eleitoral (...) e, em se mantendo o mesmo resultado no 2º turno, a empresa deverá reduzir sua base orçamentária para o próximo ano em pelo menos 30%”.

A divulgação do comunicado foi feita pela deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS), que publicou a carta no Twitter na manhã desta terça-feira. “A empresa Stara está avisando seus fornecedores que demitirá parte de seus funcionários caso Lula ganhe no 2º turno”, escreveu. De acordo com a assessoria da deputada, ela entrará com uma representação no Ministério Público do Trabalho (MPT) por esta questão.

Presidente da empresa doou R$ 350 mil à campanha de Bolsonaro

A Stara é controlada pela família Trennepohl, simpatizante do presidente Jair Bolsonaro (PL). O presidente do conselho de administração, Gilson Trennepohl, doou R$ 350 mil à campanha de Bolsonaro, e mais R$ 300 mil à do ex-ministro da Cidadania bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), candidato ao governo gaúcho.

O presidente da empresa, Átila Trennepoh, afirma que o documento não era direcionada ao público externo e não configura uma ameaça, e sim uma projeção. Diz, ainda, que a companhia não planeja demissões mesmo se Lula vencer as eleições. Ao GLOBO, ele refutou que o documento represente qualquer anúncio ou ameaça de demissões.

— O comunicado era dedicado ao time de fornecedores mais estratégicos e não deveria ter saído ao mercado, diz respeito a uma informação de dentro da empresa. É um alinhamento sobre nossas previsões orçamentárias e acontece com frequência, foi mal interpretado — afirmou o presidente da Stara.

Segundo Átila Trennepoh, a Stara previa um crescimento de 30% para 2023, de modo que a previsão em caso de vitória de Lula seria de estabilidade para o próximo ano.

— O agronegócio e nossos clientes apoiam maciçamente o atual presidente e têm uma aversão ao outro candidato que pleiteia o cargo (Lula), que apoia o MST, que (por sua vez) apoia invasão de terras, o que traz insegurança para o agronegócio. Além disso, chamou agricultores de fascistas. É questão lógica que os produtores rurais queiram segurar seus investimentos (em caso de vitória do petista) — disse ele.

Apesar do comunicado, o executivo afirmou à reportagem que quer "deixar as pessoas tranquilas" e afirmou que a empresa cresce neste ano cerca de 40%. A Stara registrou crescimento de 80% em sua receita líquida de janeiro a setembro de 2021, na comparação com o registrado nos nove primeiros meses de 2020. A empresa faturou R$ R$ 1,57 bilhão no período.

Em suas redes sociais, Átila Trennepoh é um vocal apoiador de Bolsonaro. Publicou um vídeo que mostra uma máquina agrícola da Stara no desfile de 7 de Setembro em Brasília, por exemplo. No dia 1º de outubro, publicou um vídeo em que o pai aparece com a camisa da seleção brasileira dizendo que "é a hora de nós escolhermos os nossos representantes entre o bem e o mal, o certo e o errado" e criticando governos de esquerda na América Latina. Na legenda, Átila afirma "nem que me perguntem 22 vezes em quem vou votar em dois mil e 22 eu vou dizer", em alusão ao apoio a Bolsonaro.

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