Lula sai em defesa de Padilha, alvo de críticas do Congresso: 'Relação difícil, mas cumpriu seu papel'

Lula citou a derrubada pelo Congresso Nacional dos vetos ao marco temporal e falou em brigar na justiça caso queiram reverter a decisão


Lula se reúne com Padilha no Palácio do Planalto Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, durante evento nesta sexta-feira. Lula afirmou que é difícil manter a relação com o Congresso Nacional, mas avaliou que Padilha "cumpriu seu papel".

— O companheiro Alexandre Padilha vocês conhecem, sabem que foi extraordinário ministro da Saúde, foi extraordinário ministro das relações políticas no meu 1º mandato e foi escolhido por mim para manter uma relação difícil. Porque é importante vocês lembrarem, o PT só tem 50 deputados de 513, PCdoB tem um pouquinho, PSB tem um pouquinho, PDT tem um pouquinho. A esquerda toda não deve ter 130 deputados de 513. Então vocês têm que compreender a capacidade que temos que ter de negociar pra aprovar qualquer coisa.

Em seguida, Lula citou a derrubada pelo Congresso Nacional dos vetos ao projeto que estabelecia um marco temporal para a demarcação terras indígenas no país. O presidente afirmou que os parlamentares aprovaram coisas "totalmente contrárias" ao que os indígenas queriam, mas que agora, por não haver maioria, terão que brigar na justiça caso queiram reverter a decisão.

— Vocês viram o que aconteceu. Foi aprovado a questão do marco temporal. Vocês estão lembrados que tinha tido decisão da Suprema Corte, ai a Câmara aprovou totalmente o contrário daquilo que o movimento queria, que os indígenas queriam. Quando chegou na minha mão eu vetei tudo. Mas voltou para o Congresso e o Congresso derrubou meu veto. Agora, se a gente quiser, vai ter que voltar a brigar na justiça, porque a gente não tem maioria. Apesar disso, o Congresso ter contribuído para a gente ter conquistar coisas e avançar — avaliou.

O presidente deu as declarações durante o Natal com os Catadores, em Brasília. Lula estava acompanhado pela primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e por ministros de estado, entre eles, Padilha.

Lula vetou o marco temporal e outros trechos do projeto de lei sobre o assunto no fim de outubro. A iniciativa foi aprovada pelo Congresso e deixou em lados opostos ambientalistas e ruralistas. A aprovação pelo Poder Legislativo aconteceu logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) firmar entendimento contra a tese do marco temporal. A expectativa é de que o governo optasse por judicializar o assunto, que ainda deve ser questionado no Supremo.

Na última reunião ministerial do ano, Lula enalteceu a articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional, mas deixou de fora do seu discurso o ministro Alexandre Padilha, principal responsável por essa área do governo.

Na ocasião, Lula afirmou que houve um trabalho "extraordinário" com o Congresso Nacional e parabenizou a "capacidade de negociação" dos líderes do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (sem partido - AP), além do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que conduziu negociações de medidas econômicas com impacto elevado para as contas do governo.

Em outro momento, Haddad e líderes também foram parabenizados por Lula em razão da aprovação da PEC da Transição, antes mesmo de tomar posse como presidente da República, que teve sua negociação liderada por aliados, entre eles Fernando Haddad.

Burocracia

Em seu discurso no Natal dos Catadores, Lula também criticou a burocracia dos ministérios e cobrou dos seus ministros que não deixem que essas traves paralisem as entregas do governo.

— Se deixar a burocracia dos ministérios dizer quando vai acontecer as coisas, as coisas não acontecem. Porque se tem uma coisa às vezes desagradável é que você toma uma decisão no governo, ai eu saio pelo Brasil inteiro falando que tomei tal decisão, que assinei tal coisa, e ai quando vou ver, aquela coisa não foi nem regulamentada.

Em seguida, Lula citou a sanção do projeto de lei que determina igualdade salarial entre homens e mulheres que tenham a mesma função. Lula afirmou que levou um tempo para se dar conta de que tinha assinado um decreto estabelecendo um prazo mínimo de 180 dias para regulamentar a lei.

O presidente contou, então, que determinou ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, que suspendesse o texto e cobrou do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que regulamentasse o texto em um tempo mais curto.

— Vou dar um exemplo a vocês. Fiquei com muito orgulho no dia em que sancionei a lei para que a mulher tenha o mesmo salário que o homem exercendo a mesma função. Eu já saí pelo Brasil inteiro falando 'trabalho igual, salário igual'. Quando foi um dia, descubro que tinha assinado um decreto dando 180 dias para regular e mais 180 dias, prorrogava por mais 180 dias, para regulamentar a lei. 365 dias, mais do que o tempo que demorou para ser aprovada (no Congresso Nacional). Eu chamei o companheiro Rui Costa e falei 'Rui, vamos anular o decreto', liguei para o (Luiz) Marinho e disse que tinha que ser regulado já.

'Pressão' de Janja

Lula afirmou ainda que "sofre uma pressão muito grande" da primeira-dama pela cobrança da presença das mulheres nos espaço.

— Eu sofro uma pressão muito grande. Eu tenho em casa uma mulher que não pode ver uma fotografia minha só com homem que ela fica puta da vida comigo, fica puta com Stuckert (fotógrafo de Lula), ela fala 'manda o Stuckert publicar fotografia com mulher, só homem nesse negocio'. E às vezes é verdade. Ainda há uma dominação. Nas mesas que a gente faz, a maioria é homem, nas coisas que a gente faz a maioria é homem porque é uma questão que nós temos que aprender e vocês podem não apenas exigir, mas nos ensinar a ter um comportamento mais respeitoso, solidário e companheiro com as mulheres brasileiras.

Lula ainda afirmou que as mulheres estão "empoderadas" e "conquistando" cada vez mais espaço na sociedade. Em seguida, afirmou que "na medida que a mulher vai evoluindo para conquistas espeço fora da cozinha" os homens deveriam ocupar os espaços das tarefas domésticas.

— As mulheres estão sendo empoderadas, estão conquistando empoderamento , as mulheres cada vez mais estão ocupando espaço, espaço no mundo do trabalho, da política, espaço no mundo da cultura, da ciência. Agora, na medida em que a mulher vai evoluindo para conquistar espaço fora da cozinha, é importante que nós, os homens, começemos a ocupar o espaço dentro da cozinha para fazer parte do serviço que elas fazem. É a contrapartida solidária, humanista e democrática é a gente repartir. Se a mulher foi pra fora, o homem tem que voltar um pouco pra dento. Esse negocio de dizer que sindicato é coisa de homem, que politica é coisa de homem, acabou. Acabou.

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