Estrutura de espionagem e fake news da Abin tinha três núcleos e envolvia Presidência, diz PF

Integrantes da Abin alimentavam ativistas digitais 'malucos' com informações

Por — Brasília


O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

RESUMO

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GERADO EM: 11/07/2024 - 18:35

Escândalo de espionagem na Abin durante governo Bolsonaro

Polícia Federal descobre esquema de espionagem e fake news na Abin durante governo Bolsonaro, envolvendo diferentes núcleos e influenciadores digitais ligados ao gabinete do ódio. Alvos eram ministros do STF, ex-presidenciáveis e jornalistas críticos ao governo. Medidas foram tomadas para distanciar beneficiários políticos da desinformação.

A Polícia Federal apontou a descoberta de dois novos núcleos no suposto esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que operou durante o governo Jair Bolsonaro. São eles: o "núcleo presidência" e o núcleo "vetor de propagação".

De acordo com as investigações, esses dois grupos eram municiados pelo "núcleo estrutura paralela", que era constituído pelo policial federal Marcelo Borvemet e o militar do Exército Giarcarlo Gomes Rodrigues — ex-servidores cedidos à Abin que recebiam ordens do ex-diretor da agência e deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ). Eles foram alvos de mandados de prisão preventiva expedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Tendo à disposição ferramentas e sistemas da Abin, eles repassavam dossiês e informações para serem disseminadas por influencers do chamado "gabinete do ódio". Os alvos eram ministros do STF, ex-presidenciáveis, parlamentares e jornalistas considerados adversários do governo Bolsonaro, segundo as apurações.

"Segue o perfil do maluco que eu estou alimentando... mas usa uma conta fake, não segue com a sua não... tudo que eu estou passando ele publica... acabou de publicar mais uma", disse o militar ao policial federal em uma mensagem interceptada pela PF.

Os próprios integrantes da Abin chamavam o grupo de ativistas digitais de "malucos" e conversavam com eles por meio de perfis falsos.

"A difusão de informações falsas diretamente vinculadas a ministro da Suprema Corte e seus familiares era intencionalmente difundida no grupo nominado pelo próprio Bormevet como 'grupo dos malucos'", diz a PF.

O núcleo "presidência", por sua vez, seria um ponto de contato do Planalto com os influencers do "gabinete de ódio". Faziam parte desse grupo Mateus de Carvalho Sposito, que foi assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) na gestão de Jair Bolsonaro; e o assessor legislativo Daniel Lemos.

A PF interceptou uma mensagem em que um dos blogueiros diz que tinha "linha direta com o presidente", referindo-se a Sposito e Lemos.

"Os diálogos encontrados também desvendaram a forma de ação dos conteúdos ilícitos obtidos pelo núcleo de estrutura paralela. Apurou-se que o material reunido era repassado a vetores de propagação em redes sociais (perfis falsos e perfis cooptados) que formavam o núcleo de milícias digitais da organização criminosa", diz a representação da a manifestação da Procuradoria-Geral da República.

Conforme a PGR, a subdivisão das funções em núcleos servia como "anteparo para distanciar do ilícito os verdadeiros beneficiários políticos da desinformação".

Ferramenta de monitoramento

Como revelou O GLOBO, a Abin utilizou um programa secreto chamado FirstMile para monitorar a localização de alvos pré-determinados por meio dos aparelhos celulares. Após a reportagem, a Polícia Federal abriu um inquérito e identificou que a ferramenta foi utilizada para monitorar políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo de Bolsonaro.

De acordo com a PF, além de policiais federais e servidores da Abin, o então diretor da pasta à época, Alexandre Ramagem, e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro são investigados por suposta participação na chamada “Abin paralela”. Eles foram alvos de mandados de busca e apreensão. Ambos negam o crime.

Em nota no início do ano, a Abin informou que “é a maior interessada” na apuração dos fatos. "Há 10 meses a atual gestão da Abin vem colaborando com inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal sobre eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021. A Abin é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações", afirmou a agência.

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