Ao definir Eduardo Cavaliere como vice da chapa à reeleição neste ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), deixou pelo caminho o aliado que “congelava” a linha sucessória da prefeitura do Rio desde 2016. O roteiro seguido pelo deputado federal Pedro Paulo (PSD), desgastado por episódios da vida privada e retirado de cena na semana passada, repetiu a trajetória de outros quadros próximos de Paes na primeira gestão, há mais de uma década, que também acabaram descartados por causa da preocupação com danos à imagem do prefeito. Com outros veteranos como alternativa, ele optou agora por uma passagem de bastão para a geração “sub-30” que ganhou terreno a partir de 2021.
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Com a indicação a vice, Cavaliere se credencia para assumir a prefeitura em 2026, caso Paes seja reeleito e se afaste para disputar o governo do estado. A escolha pelo deputado foi justificada por um recuo de Pedro Paulo, que havia sinalizado preocupação com o eventual uso por rivais, durante a campanha, de um vídeo íntimo gravado por uma apoiadora em 2020.
“Sua atitude — de colocar a família em primeiro lugar — faz crescer ainda mais a minha admiração e o meu respeito por ele”, disse o prefeito em nota.
Troca incômoda
A justificativa de Paes, porém, foi recebida com ceticismo por aliados, para quem Pedro Paulo havia saído ileso do primeiro escrutínio causado pela revelação da existência do vídeo, na semana passada. A avaliação é que a perda da posição na linha sucessória vai levar algum tempo para ser digerida.
Paes já recalculou a rota da sucessão, no passado, depois de episódios que abalaram aliados. Em 2014, o então secretário municipal de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem, que era cotado para disputar a prefeitura em 2016, foi afastado do entorno do prefeito após a ex-mulher divulgar gravações que sugeriam envolvimento em corrupção. Na ocasião, Paes se disse “estarrecido” com as denúncias e sugeriu que o aliado poderia “ir para a cadeia”.
Bethlem, que era chamado à época de “xerife” da cidade, tamanho o protagonismo que tinha na gestão Paes, demorou a engolir o tratamento recebido pelo prefeito, e sempre bateu na tecla de que nada foi provado contra ele. Virou desafeto e, anos depois, coordenou a campanha de Marcelo Crivella (Republicanos) contra o ex-aliado. Recentemente, voltou a falar com o antigo parceiro.
Foi justamente o afastamento de Bethlem que abriu espaço à candidatura de Pedro Paulo em 2016. Na ocasião, Paes também chegou a avaliar uma retirada dele após vir à tona um processo de violência doméstica contra a ex-mulher. Apesar de arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR), o caso representou um passivo político enorme para o deputado na campanha daquele ano, quando acabou ficando fora do segundo turno.
Outro cotado para disputar a sucessão de Paes em 2016 era o ex-vereador Luiz Antônio Guaraná, mas ele havia sido eleito, dois anos antes, para um cargo vitalício de conselheiro no Tribunal de Contas do Município. Na trajetória política, Guaraná chegou a ser associado ao miliciano Cristiano Girão, embora sempre tenha negado envolvimento com grupos paramilitares.
Já neste ano, alguns conselheiros de Paes opinaram que seria desnecessário levar consigo para a eleição, na qual desponta com amplo favoritismo, os episódios, e possíveis desgastes, que envolvem Pedro Paulo.
Pedro Paulo, Bethlem e Guaraná são aliados de Paes que já passaram da casa dos 50 anos, assim como o prefeito, que fará 55 em novembro. Em vez de optar por outro contemporâneo para a vice, ele escolheu Cavaliere, de 29, que é deputado estadual de primeiro mandato e ocupou seus primeiros cargos políticos na atual gestão do prefeito. No que se refere à imagem pública, o jovem ainda é considerado uma página em branco.
Troca de guarda
Cavaliere iniciou a gestão como secretário de Meio Ambiente, o que serviu de plataforma para que se elegesse deputado estadual em 2022. Depois, passou a chefiar a Casa Civil, principal pasta da administração pública.
Paes também abriu espaço à geração sub-30 na Secretaria de Educação, com Renan Ferreirinha, que assumiu a pasta aos 27, e na Secretaria de Mulheres, com Joyce Trindade, que tinha 24. Joyce é uma das apostas do PSD para a Câmara de Vereadores neste ano, mesmo caso de Salvino Oliveira, que assumiu a Secretaria de Juventude na prefeitura aos 22 — em um esforço para dar protagonismo a uma área normalmente pouco destacada em governos.