Série de reportagens faz um panorama da luta antirracista em Niterói

No mês em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, O GLOBO-Niterói mostra iniciativas de combate ao racismo na cidade


Preso injustamente, Luiz Justino virou símbolo do combate ao racismo Divulgação

Preso injustamente por duas vezes, uma em 2020 e outra este ano, o violoncelista da Orquestra de Cordas da Grota Luiz Justino se tornou um símbolo da luta antirracista em todo o país. Mesmo com o trauma que sofreu, o músico niteroiense busca inspirar outros jovens com sua história de superação. Às vésperas do Mês da Consciência Negra — dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra em memória a Zumbi dos Palmares —, O GLOBO-Niterói inicia hoje uma série de reportagens para abordar iniciativas de combate ao racismo na cidade.

Na semana passada, Justino começou a trabalhar e estudar no Conservatório de Música de Niterói, a convite da prefeitura. Mas mesmo estando em um momento tranquilo e feliz, convidado a se apresentar em grandes eventos, o músico não esquece o que passou e conta que ainda tem medo de andar na rua. Na primeira vez que foi preso, ficou quatro dias detido acusado de assalto a mão armada após ser reconhecido, em 2017, apenas por uma fotografia que constava no livro da 79ª DP (Charitas). Ele foi absolvido do crime no ano passado e quando achava que o caso era página virada foi detido em uma blitz, em agosto, porque, segundo policiais, havia um mandado de prisão em aberto contra ele, que seria o mesmo que levou à sua detenção em 2020 e que nem deveria mais estar no sistema.

—Espero que com toda a repercussão do meu caso eu nunca mais passe por isso, mas ainda tenho medo. Saio na rua à noite para trabalhar com medo de ser abordado, ouço sirenes e fico assutado, evito sair para alguns lugares com minha filha de 5 anos. Eu me projetei a vida toda para ser reconhecido apenas pela música, mas já que tudo isso aconteceu comigo, acho muito importante ser uma voz nessa luta antirracista. Agora não se trata apenas de me proteger, mas de defender que outros não passem pelo que eu passei. Quando abro minha caixa de recados nas redes sociais, recebo muitas mensagens de pessoas que passaram ou têm parentes com casos parecidos com o meu — comenta o violoncelista.

Na semana passada, Niterói participou do lançamento da Carta Brasileira pela Igualdade Racial. O documento, produzido pela Rede de Cidades Antirracistas, foi assinado por 19 municípios. De acordo com a Subsecretaria de Promoção de Igualdade Racial (Supir), vinculada à Secretaria municipal de Direitos Humanos, Niterói foi o berçário do Pacto de Combate ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial.

— Em abril de 2021, surgiu a ideia de juntar outras cidades para pensar nas demandas da pauta racial. Elaboramos um documento reunindo um conjunto de proposições e ações, assinado por 19 cidades fluminenses, além de Salvador, em junho, no Museu Afro-Brasileiro. Como desdobramento dessa iniciativa, no último dia 21 lançamos a Carta Brasileira pela Igualdade Racial, no Museu do Amanhã. A proposta é que esta carta seja enviada à ONU, à Convenção de Milão e a outros eventos internacionais que possam fortalecer e apoiar iniciativas em prol da promoção da igualdade racial no Brasil e no mundo. Este são passos importantes e devem ganhar força porque os direitos não podem ser violados. Direitos são para ser garantidos, assegurados e efetivados— explica a subsecretária de Promoção de Igualdade Racial, Glória Anselmo.

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