Superação pós-incêndio: conheça a história do Rei do Piscinão de Ramos, que tem mais de um milhão de seguidores

Um ano depois de perder tudo, Neymar Rud tem o maior quiosque da praia artificial e faz sucesso na internet como influenciador digital

Por — Rio de Janeiro


Neymar Rud é proprietário do maior quiosque do Piscinão de Ramos Divulgação/Vítor Harmonia

Ele tem nome de jogador de futebol. Mas, definitivamente, não é um craque da bola. Neymar Rud nem se importa com a sua fama de perna de pau. Pudera. Este rubro-negro, nascido e criado na Pavuna, onde ainda mora, marca, diariamente, um golaço longe dos gramados, mais precisamente em uma praia artificial no subúrbio carioca, destino ideal de quem deseja curtir um dia de lazer na companhia dos amigos e da família, bebendo uma cervejinha gelada, saboreando petiscos variados e sem abrir mão daquela batucada de lei. O campo em que este cantor, comerciante e influenciador digital, com mais de um milhão de seguidores nas redes sociais, atua já inspirou música e foi cenário de novela. Difícil encontrar quem já era crescidinho na década de 1980 que não soltasse a voz ao ouvir Dicró (1946-2012) cantar “Domingo de sol/Adivinha pra onde nós vamos/Aluguei um caminhão/Vou levar a família na Praia de Ramos". No ano de 2002, o bordão “Cada mergulho é um flash”, repetido pela personagem Odete (Mara Manzan) na novela “O clone”, da TV Globo, era uma homenagem à região que havia sido revitalizada em dezembro de 2001.

Comerciante da área desde 2005, o ex-feirante, ex-pedreiro e ex-ajudante de mecânico era só mais um frequentador daquelas areias, participante assíduo das rodas de pagode que rolavam por lá todos os fins de semana, até que conseguiu comprar um pequeno quiosque. Logo ganhou fama no lugar, pela voz e também pelos frutos do mar servidos na casa. Tudo ia bem até a chegada da pandemia, que o obrigou a fechar o estabelecimento.

Quando voltou a funcionar a pleno vapor, em agosto de 2022, parecia estar de volta ao paraíso. Ledo engano. Uma semana depois, um incêndio no quiosque destruiu tudo, causando um prejuízo de R$ 500 mil. No dia seguinte, após bater o desespero, ele levantou a cabeça, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Vendeu bebidas em um isopor e trabalhou de sol a sol. Um ano depois da tragédia, tem consciência de que é um campeão no jogo da vida. Explica-se. Rud é o proprietário do maior estabelecimento do local e ganhou o apelido de Rei do Piscinão de Ramos.

O empresário e influenciador digital Neymar Rud também é cantor — Foto: Acervo pessoal

— Antes do incêndio, o Kiosque do Neymar era pequeno. Em 13 de agosto de 2022, eu estava em casa assistindo ao “Bom dia Rio”, da TV Globo, quando o helicóptero mostrou que um quiosque no Piscinão estava pegando fogo. Logo percebi que era o meu. Corri para lá, mas não deu para salvar nada. Fiquei mal. Mas recomecei do zero. Contei com a ajuda dos funcionários, de clientes, da minha família, de muita gente, para me reerguer. Entrei com o pé na porta no projeto de reconstruir o meu trabalho. Nesse meio tempo, um amigo sugeriu que eu fizesse vídeos para a internet, já que eu tinha ganhado uma maior visibilidade na região por causa do incêndio. Gostei da ideia e optei por fazer o povo rir, não em contar a minha tragédia pessoal. Deu certo. Viralizei no mesmo dia com uma publicação que fiz sobre traição. Foram oito milhões de acessos em 24 horas. A partir daí, fui convidado para fazer propaganda na internet de açougue, mercado, parque aquático... Não demorou para eu conseguir comprar os espaços ao lado da minha antiga loja que havia pegado fogo. No ano passado, diante do incêndio que me fez perder tudo, pensei que era o fim da minha vida. Mas era só o começo de um novo tempo. O quiosque cresceu, eu explodi na internet — diz.

A carreira de influenciador digital convive em harmonia com o dia a dia de Rud no Piscinão. Religiosamente, o cantor solta a voz nas tardes de sexta, sábado e domingo, a partir das 14h, no seu quiosque. Outra prioridade é interagir com os clientes.

Neymar Rud voltou a trabalhar no Piscinão um dia após o incêndio que destruiu o seu quiosque no ano passado — Foto: Divulgação/Vítor Harmonia

— Eu vou em todas as mesas para conversar um pouco com as pessoas. Nos dias de pagode, sempre estou no palco. Se eu não cantar, o povo briga. Sou um roqueiro que virei pagodeiro, então procuro unir essas duas paixões fazendo releituras de músicas do Legião Urbana, do Titãs, em ritmo de samba. Nunca gravei um disco, mas não descarto a possibilidade disso acontecer um dia — observa.

Prazo para tocar este projeto, Rud não tem.

— Sou como o Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar — conclui.

Mais recente Próxima História das escolas de samba é contada em livro de Candeia e Isnard Araújo