O charme da cultura negra: Viaduto de Madureira terá grafites de ícones musicais e oficinas de artes

Painéis e intervenções artísticas no local, sede de bailes tradicionais, contarão a história da black music

Por — Rio de Janeiro


Viaduto de Madureira terá uma homenagem especial ao charme Divulgação/Thiago Moraes Muniz

Desde os primórdios da música até os gêneros mais contemporâneos, personalidades negras desempenharam um papel fundamental na criação e na evolução de diversos estilos musicais. Do jazz ao pop, passando pelo samba, o funk e o charme carioca, suas contribuições moldaram o cenário musical global. Agora, essas influências musicais estão prestes a serem celebradas no Viaduto de Madureira, que será transformado em um “museu vivo”, consolidando-se como um ícone da cultura negra e urbana do Rio, graças ao Projeto Zona de Arte Urbana (ZAU).

A inauguração está prevista para o dia 11 de maio, e, além da reforma e de intervenções artísticas, tanto na parte externa quanto na interna o projeto prevê uma série de atividades socioculturais gratuitas, como oficinas de grafite abertas ao público e encontros de grafiteiros. Uma das oficinas será realizada neste sábado (27), das 14h às 18h. Os objetivos são promover a integração entre artistas urbanos, estimular o debate e a troca de conhecimentos e incentivar a participação da comunidade na criação de murais e intervenções artísticas.

Criado em 2023, o ZAU foca em ações culturais e educativas por meio do grafite. Idealizado por Airá Ocrespo, grafiteiro responsável por obras marcantes, como “A primeira ministra negra do STF”, o projeto busca celebrar os 34 anos do Viaduto de Madureira, contando a história da black music brasileira por meio de grafites e intervenções artísticas. Além de Ocrespo, outros quatro artistas de destaque participam da iniciativa: Amora, Agarte, Cety e Seon.

Cety pintando uma figura do Black Rio; e, ao lado, As Irmãs Furacão, por Amora Moreira — Foto: Divulgação/Thiago Moraes Muniz

O charme, um dos ritmos mais representativos da black music americana, tem suas raízes fincadas na Zona Norte do Rio. O termo foi cunhado pelo DJ Corello em um baile nos anos 1980, no clube Mackenzie, no Méier. Antes de chegar a Madureira, em 1990, e fazer do viaduto seu point mais tradicional, o charme circulou e ganhou fama em bairros como Marechal Hermes e Abolição. Em 2019, o ritmo se tornou patrimônio cultural imaterial do estado do Rio, a partir da aprovação de lei elaborada pela deputada estadual Zeidan Lula (PT).

Segundo Crespo, essa herança musical, que se estende desde os bailes charme até os sons mais contemporâneos, como o funk e o trap, será retratada nas paredes do viaduto, representando não apenas uma celebração da cultura negra, mas também um testemunho da importância dessas contribuições para as identidades carioca e brasileira.

Nas palavras de Ocrespo, a revitalização do viaduto não se limita apenas a uma questão estética, mas busca criar um espaço de memória da negritude urbana carioca. A intenção é fortalecer o sentimento de identidade e pertencimento das comunidades locais, destacando os marcos históricos que permeiam as origens das pessoas que ali frequentam e das culturas que o viaduto abriga.

— O Viaduto de Madureira já é reconhecido internacionalmente, e agora está prestes a se tornar um símbolo ainda mais poderoso da cultura negra e urbana. Com sua transformação em um espaço de memória e representação de ícones da música negra, do charme e dos bailes que o tornaram famoso, se tornará uma referência não apenas para o Rio, mas para todo o Brasil. Este projeto não só embelezará o local, mas também criará um ambiente mais acolhedor e inclusivo, onde as pessoas, especialmente as negras, se sentirão mais conectadas e representadas. Além disso, inspirará frequentadores e visitantes, fortalecendo o trabalho sociocultural que o viaduto representa como um espaço de resistência e celebração da diversidade — afirma.

Negra Li foi representada pela artista Andressa Gandra — Foto: Divulgação/Thiago Moraes Muniz

No projeto de revitalização do Viaduto de Madureira, uma galeria viva da cultura negra e urbana carioca, várias personalidades icônicas estão sendo retratadas. Desde lendas do blues, como BB King e Chuck Berry; passando por ícones do samba, como Tia Ciata e Paulo da Portela; até gigantes do pop e do soul, como Michael Jackson e Aretha Franklin. Além disso, artistas da atualidade como Negra Li e DJ Michell também receberão destaque, representando a evolução contínua da cultura musical negra no Brasil.

— Não tinha como retratar todos, obviamente. Escolhemos alguns que julgamos que não podiam estar de fora, como Michael Jackson, uma figura icônica da cultura pop mundial. Sua contribuição para a música é inegável, apesar das controvérsias que cercam sua vida. Decidi retratá-lo mais jovem, pois ele representava essa imagem jovial e alegre, simbolizando energia em sua forma mais pura. Sua música e sua presença no palco contagiavam o público e inspiravam pessoas ao redor do mundo — relata Ocrespo, acrescentando que serão mais de 30 personalidades homenageadas.

O projeto foi aprovado no edital Conexões Urbanas, da Lei Paulo Gustavo, pela Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro.

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