Supermercado de Copacabana recusa nota de cem reais e cliente denuncia constrangimento: 'Como se eu fosse uma ladra'; vídeo

Negra, a locutora Marisa Vieira não descarta ter sofrido racismo. Rede diz que cumpriu procedimento padrão

Por — Rio de Janeiro


A nota de cem reais recusada no Supermarket de Copacabana Reprodução

Uma cliente denuncia ter sofrido constrangimento no Supermarket da Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, ao tentar pagar suas compras, na segunda-feira (27). Em vídeo publicado nas redes sociais, a locutora, apresentadora e atriz Marisa Vieira, de 52 anos, relata, indignada, que os atendentes se recusaram a aceitar sua nota de cem reais, supondo ser falsa. Só depois de muito questionar o comportamento dos funcionários, conta, é que conseguiu efetivar o pagamento dos produtos e deixar a unidade. Ela, que é uma mulher negra, não descarta ter sido vítima de racismo.

"O fiscal disse que não iria aceitar, porque depois iria sobrar para ele. Aí, eu falei: 'Mas como assim? Por que você não quer aceitar minha nota?'. Primeiro, ficaram lá, todos os caixas como se a nota fosse roubada. O maior constrangimento do mundo. Quando eu liguei para o 190, num instantinho, eles chamaram o gerente. A moça (do 190) me deu o protocolo e disse que eu tenho que resolver isso no Procon. Eu não vou deixar isso pra lá não. Levei minhas compras. Eu poderia ter pago no cartão de débito, mas eu não paguei. Não vou aceitar. Queria ver se eles fariam isso com uma madame aqui de Copacabana. Não iriam fazer, né? Mas, com a pretinha, eles se sentem no direito. Se fosse em outra época, eu deixaria pra lá. Agora, não deixo mais", desabafou.

O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro.

Cuidadora de idosos aos fins de semana, Marisa contou ao GLOBO que estava voltando da casa onde trabalha e passou no mercado para comprar um vinho que estava em promoção, a fim de comemorar seu aniversário, nesta terça (28).

— Peguei o vinho, um macarrão e um chocolate e fui para a fila. Quando fui pagar, a atendente, loura, pegou minha nota e pôs contra a luz, o que é um procedimento normal. Mas ela ficou demorando, depois passou para outra atendente e falou: "Olha essa nota, como está estranha. Vou chamar o fiscal!". Levaram minha nota, demoraram uns vinte minutos, depois voltaram e falaram que não iriam aceitar. Perguntaram se eu não poderia pagar no débito. Eu fiquei surpresa com a situação. Não estava acreditando. Depois, me veio uma vergonha, por haver pessoas me olhando. Me senti julgada e exposta. Com o constrangimento, me tremi toda e, ao sair do mercado, chorei bastante. Não fazia o menor sentido, porque a nota nem rasgada estava — conta. — Eu senti que podia ser racismo, porque pensei se fariam isso com uma senhora branca ou com um gringo.   

Num primeiro registro, feito ainda dentro do supermercado, Marisa mostra a cédula diante do caixa e lamenta estar sendo tratada como uma pessoa fora da lei.

"Eu estou aqui no Supermarket de Copacabana e eles não estão aceitando a minha compra. Dizem que a nota está gasta. Não querem que eu leve (as compras). Querem que eu arrume outra coisa (forma de pagamento). Primeiro, uma pinimba, como se a nota fosse falsa. Agora, disseram que é porque a nota está velha. Então, quero deixar registrado. Ela (a atendente) chamou o gerente, e disseram que vão olhar. Mas eles querem que eu deixe a minha compra, porque minha nota está gasta, como se eu fosse uma ladra. Eu nunca vi isso", reclama.

Em nota, a Rede Supermarket diz que não houve constrangimento à cliente:

"A operadora de caixa apenas cumpriu o protocolo padrão de testagem para validação da cédula, comum a qualquer estabelecimento comercial. Como não foi possível validar imediatamente, devido ao desgaste, foi necessária a presença de um supervisor, que atestou a veracidade. A cliente seguiu normalmente com as compras na unidade mencionada, realizando o pagamento com a referida nota".

Marisa contesta o posicionamento da empresa:

— Foi constrangedor sim, e eu acho um absurdo eles falarem que não houve constrangimento. Chega a dar um nó na garganta. É de um desrespeito enorme. Fiquei muito nervosa com todos me olhando e julgando, porque, com a recusa deles em aceitar, a fila foi ficando cada vez maior. Me tremia toda e fiquei até com medo de passar mal. Mesmo assim, não quis me calar. Temos que exigir nossos direitos.

Em mensagem enviada à cliente no Instagram após a publicação da reportagem, o Supermarket diz que não compactua com nenhuma forma de preconceito:

"Esclarecemos que estamos fazendo as devidas apurações internas sobre o acontecimento e reforçamos que a Rede Supermarket repudia quaisquer manifestações de preconceito, que contrariam os valores e diretrizes que a norteiam".

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