Curso sobre enredo da Portela tem poucas vagas restantes; rainha de bateria comanda o projeto: 'Somos mais que um corpo bonito'

Projeto que tem Bianca Monteiro à frente oferece, a partir de segunda-feira, aulas online sobre o livro 'Um defeito de cor', de Ana Maria Gonçalves; inscrição é gratuita e feita pela internet

Por — Rio de Janeiro


Rainha de bateria da Portela, Bianca Monteiro Domingos Peixoto / Agência O Globo

No ano em que levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Um defeito de cor”, inspirado no livro de mesmo nome, de Ana Maria Gonçalves, além de fazer sua gente sambar, a Portela promete fazer refletir e também emocionar. Para compreender a obra literária, um curso será oferecido gratuitamente pela Oficina de Artes Paulo da Portela, projeto que tem à sua frente a rainha de bateria da azul e branco: Bianca Monteiro, que tem se posicionado frequentemente emsuas redes sociais, diz que o enredo da trama mudou a sua vida. A procura para as aulas é grande e as 100 vagas disponibilizadas inicialmente se esgotaram em 48 horas. Foi preciso abrir outras 100 cadeiras, das quais metade já foi preenchida.

“Um defeito de cor” é um clássico contemporâneo narrado pela escravizada Kehinde, personagem inspirada em Luiza Mahim, mãe do poeta abolicionista Luiz Gama. Na Avenida, a Portela promete estar baseada no afeto, ancestralidade cultuada no sagrado feminino.

A perspectiva da escola, que tem os carnavalescos André Rodrigues e Antonio Gonzaga assinando o desfile, é pensar pela perspectiva de Luiz Gama, sonhando em uma carta em que ele responderia à sua mãe sobre o legado deixado por ela.

— A Kehinde mudou nossas vidas: a minha e a do projeto. Entendi qual é o nosso propósito, de trazer a força da mulher preta, suburbana, que é mãe, trabalhadora, e que precisa sustentar seu filho, mas que também precisa de um momento para ela — detalha Bianca, que enumera casos de famílias inteiras que se inscrevem em cursos distintos oferecidos pela Oficina Paulo da Portela. — Tenho que sempre reinventar (novos cursos) porque a galera não quer ir embora.

Criada durante a pandemia, a oficina era “um sonho” de Bianca, menina criada em Madureira e que desfila pela Portela desde 2004. Em 2016, ela deu uma pausa ao ser eleita princesa do carnaval do Rio, mas retornou no ano seguinte para reinar à frente da bateria: tornou-se rainha e, pé quente, viu a escola levantar o troféu, encerrando um jejum de mais de 30 anos sem títulos.

No cargo, Bianca, que foi criada no Subúrbio, inspira as gerações atuais a acreditar ser possível conquistar os espaços almejados pelo próprio mérito.

— Enfrentei muitas dificuldades na vida para estar no posto em que estou. A dificuldade é se manter. As pessoas precisam entender que somos mais que um corpo bonito com samba no pé: a gente tem objetivos, sonha, pensa. A melhor maneira de devolver para a Portela a oportunidade de estar à frente da bateria é, por exemplo, com o projeto, que é o que gosto e acredito: mudar o mundo através da prática — conta Bianca, que se define como uma "mulher de Iansã", que não veio ao mundo à toa.

A própria rainha é a prova de que é possível buscar novos horizontes. Aos 35 anos, ela é estudante de Serviço Social, além de estar ganhando espaço em outra função: foi ela, por exemplo, a comandar lives da Portela — como a da final do samba enredo de 2024 — e a última final do concurso de rei momo, rainha e princesas do carnaval. Ela não descarta investir ainda em se profissionalizar na comunicação, para aprimorar o talento, com as falas sempre impecáveis.

Curso sobre enredo: como me inscrever?

Para proporcionar a formação de “artistas completos” — e não só sambistas, como destaca Bianca, mostrando oportunidades de novos horizontes — são oferecidos cursos de dança (não só samba, mas ainda dança de salão e stiletto); cordas (violão e cavaquinho); canto; maquiagem; tranças; e o de samba e literatura.

Neste último, semente para o curso sobre o enredo da Portela de 2024, é escolhido um livro que trate da história dos sambistas — ou, com num leque maior, de questões raciais e sociais. A última turma, que reuniu 40 pessoas entre abril e dezembro do ano passado, chegou a contar com a presença de Ana Maria Gonçalves, autora de "Um defeito de cor", em uma exposição baseada no livro. Todos se emocionaram.

O curso deste mês, mais próximo do carnaval, será bem mais curto e realizado de maneira virtual. A partir da próxima segunda-feira, serão realizados três encontros, uma vez por semana, de 20h às 22h, ministrados pelo professor Virgilio Magalde.

A inscrição é gratuita e pode ser feita através do link forms.gle/efGBVjfFgAqEzHUE8, que também pode ser acessado pela página @oficinapaulodaportela no Instagram. A leitura do livro não é obrigatória para se inscrever.

Cronograma das aulas online:

  1. Aula 1 - 15 de janeiro (segunda-feira), às 20h: Apresentação do livro "Um defeito de cor" - Resumo do capítulo 1 ao 5
  2. Aula 2 - 22 de janeiro (segunda-feira), às 20h: Apresentação do livro "Um defeito de cor" - Resumo do capítulo 6 ao 10
  3. Aula 3 - 29 de janeiro (segunda-feira), às 20h: Estudo do samba-enredo da Portela

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