Traficantes invadem casas interditadas após tragédia das chuvas em Petrópolis para guardar e vender drogas

PM prendeu suspeitos com drogas em imóvel no Morro da Oficina, onde 93 pessoas morreram em fevereiro deste ano

Por Jaqueline Ribeiro, Especial Para O GLOBO — Petrópolis


Morro da Oficina foi a região mais atingida da tragédia que deixou mais de 200 morto em Petrópolis Agência O Globo Agência O Globo

Traficantes de drogas estão invadindo casas interditadas após a tragédia que deixou um rastro de destruição em bairros de Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Policiais militares do 26º BPM (Petrópolis) prenderam dois homens com drogas, radiocomunicadores e dinheiro em um imóvel interditado no Morro da Oficina, no Alto da Serra. A área foi o epicentro da tragédia e, dez meses depois do temporal, ainda tem um cenário de abandono. Ali, 93 pessoas morreram soterradas no dia 15 de fevereiro deste ano. A confirmação da atuação de traficantes no local preocupa moradores e acende um alerta para autoridades quanto ao risco de áreas degradas se tornarem território do tráfico. A cidade serrana tem mais de 3.100 imóveis interditados e vulneráveis, em 26 bairros, que precisam de obras de recuperação após as tragédias de 15 de fevereiro e 20 de março.

Na última quarta-feira, PMs receberam informações de que “traficantes da localidade teriam invadido as casas que foram interditadas devido a barreiras que ocorreram no início do ano e estariam usando o local para efetuar a venda e guarda do material”. Ainda segundo a Polícia Militar, os policiais conseguiram prender dois homens com o material no morro. Com eles, foram apreendidos 220 trouxinhas de maconha, 24 pedras de crack, 28 cápsulas de cocaína, 37 frascos de cheirinho da loló, dois radiotransmissores e R$ 930. A ocorrência foi registrada na 106ª DP (Petrópolis).

As drogas apreendidas pela PM no Morro da Oficina — Foto: Divulgação

A apreensão ocorreu na parte alta do Morro da Oficina. Segundo denúncias, com as movimentações do tráfico no local, moradores de imóveis que não estão interditados estariam abandonando suas casas, com medo.

Há meses, moradores da região do Morro da Oficina pedem às autoridades ações para recuperação da área. Mas, passados dez meses, nem mesmo a limpeza e retirada de escombros foi feita. Questionada sobre o assunto, a prefeitura de Petrópolis não se pronunciou.

Bloqueio de R$ 2 bilhões

Esta semana, quase dez meses depois dos temporais que provocaram 242 mortes em Petrópolis, na Região Serrana, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 2 bilhões do governo do estado para a realização de obras de recuperação em áreas atingidas. Os recursos são oriundos da concessão da Cedae. A duas semanas do verão — quando as chuvas costumam ser mais fortes —, a cidade ainda tem 130 pontos afetados pelas tragédias de fevereiro e março que não receberam qualquer intervenção. O mapeamento foi feito pelo Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio (DRM) em 26 localidades. A decisão alcança ainda a prefeitura, que deverá identificar e demolir imóveis condenados, além de providenciar a realocação das famílias desses locais.

Na lista de áreas à espera de obras está o Morro da Oficina, onde 54 casas foram destruídas e 93 pessoas morreram soterradas em 15 de fevereiro. Até hoje, nem os escombros foram retirados. A verba bloqueada está numa conta com saldo de R$ 4,3 bilhões, dinheiro da privatização da Cedae, segundo o Grupo de Apoio Técnico ao Ministério Público do Rio. De acordo com a decisão judicial, os recursos podem ser “utilizados em ações de resposta a situações de catástrofe, como a que ocorreu em Petrópolis”.

Mais recente Próxima