Raias encontradas mortas na Ilha do Fundão estão ameaçadas de extinção

Especialistas afirmam que diversas delas estavam grávidas e estimam que serão necessários alguns anos para recuperar as mortes

Por Giovanna Durães* — Rio de Janeiro


Uma das raias encontrada morta em praia na Ilha do Fundão Divulgação / Foto de Isabelle de Loys

Raias da espécie Rhinoptera brasiliensis, encontradas mortas em uma praia na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio, nesta terça-feira, estão ameaçadas de extinção. A situação dessa espécie, popularmente conhecida como Ticonha, é considerada crítica, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foram avistadas por pescadores cerca de 50 raias mortas na areia.

Pesquisadores do Instituto Mar Urbano afirmam que o cardume, encontrado à beira da Baía de Guanabara, contava com mais de uma raia grávida, devido ao abdômen aparentemente dilatado. Ricardo Gomes, autor do livro "Raias da Guanabara" e diretor do IMU, afirma que serão necessários alguns anos para recuperar a morte de um cardume inteiro.

— É difícil estimar quanto tempo será necessário, mas levando em consideração que elas levam aproximadamente cinco anos para atingir a maturidade sexual e, dos poucos filhotes que nascem, apenas alguns vão sobreviver até atingir a idade adulta, vai demorar muito para a natureza voltar a ter um cardume como esse — disse. — Aqui é um habitat natural dessa espécie, mas como está em extinção, é muito difícil encontrar um cardume deste tamanho — lamentou Ricardo, que em seus 40 anos de mergulho, nunca havia visto tantas Ticonhas juntas.

Segundo o pesquisador, as raias e tubarões, diferentemente de outros peixes, têm uma baixa taxa reprodutiva. Além da maturação tardia, esses animais podem ter um longo tempo de gestação. A gravidez, que pode chegar a até 19 meses, muitas vezes gera poucos filhotes, o que torna a ameaça de extinção dessas espécies até 15 vezes maior que a de outros animais que vivem na Baía de Guanabara.

A causa ainda é um mistério

O motivo da morte ainda é desconhecido, mas, até o momento, a pescaria de arrasto é a causa considerada mais provável pelos pesquisadores. Apesar da ausência de marcas aparentes nos animais devido ao uso de redes de pesca, Ricardo Gomes afirma que existe grande possibilidade de que as raias, cuja captura é proibida, tenham sido pegas em uma rede de arrasto por engano. Para evitar o flagrante no desembarque, elas teriam sido descartadas no local.

— Em um primeiro momento, parecia falta de oxigenação da água ou excesso de poluição. No entanto, se fosse esse o caso, também encontraríamos outros tipos de peixes mortos. Por isso, a principal hipótese, no momento, é a pesca, mas as possibilidades anteriores ainda não foram excluídas — explicou o especialista.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) coletou a água da baía, na praia onde as raias foram encontradas, a fim de analisar os níveis de poluição e oxigênio, para confirmar se foram ou não responsáveis. Pesquisadores do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Uerj (Maqua) também recolheram 30 raias para análise da morte e do nível de contaminantes no cardume.

O delegado Wellington Vieira, da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, afirmou que a polícia aguarda documentos do Inea para iniciar as investigações.

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