O grupo contratado para matar Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, em novembro do ano passado, infiltrou-se na favela Águia de Ouro, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio, para monitorar a rotina do miliciano. Segundo as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital, a morte de Catiri foi encomendada por Adilson Coutinho Oliveira Filho, o Adilsinho, apontado como chefe da máfia do cigarro no estado. Um dos presos suspeito de ter participado do homicídio, George Garcia de Souza Alcovias alugou um imóvel na comunidade e se infiltrou na quadrilha. Ele começou a trabalhar como mototaxista na região. A polícia afirma que a organização criminosa também usou um drone para mapear a comunidade.
- De festa de arromba no Copacabana Palace à ligação com máfia de cigarros: saiba quem é Adilsinho, considerado foragido pela polícia
- Morte de Marquinho Catiri: Apontado como chefe da máfia do cigarro, Adilsinho é alvo de operação no Rio por morte de miliciano
Depoimentos à polícia apontam que George alugou o segundo andar de um imóvel localizado na Rua Pedro Borges cerca de um ano antes da morte de Catiri. Na época, segundo os relatos, ele teria afirmado que o local era ideal para morar com a namorada. O apartamento fica em frente à academia que pertencia ao miliciano e era de uso exclusivo dele. George é de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Segundo as investigações, George instalou câmeras em vasos de plantas que colocou na varanda do imóvel. Ele também passou a trabalhar como mototaxista na comunidade do Guarda e a frequentar bares onde os milicianos costumavam ir.
O diálogo entre George e Adilsinho era intermediado por José Ricardo Gomes Simões — preso em março deste ano — e Rafael do Nascimento Dutra, o Sem Alma. A quebra de sigilo bancário de George indica que, no período de um ano, ele recebeu dois pagamentos no valor de R$ 10 mil de Simões, além de outros depósitos em valores menores. Segundo a polícia, Dutra é o elo mais próximo de Adilsinho e também o chefe de um novo "escritório do crime".
A morte de Catiri seria uma forma de enfraquecer a quadrilha rival, comandada pelo contraventor Bernardo Bello, de quem o miliciano seria aliado. Com o início de investigações contra Bello e mandados de prisão expedidos, Catiri teria assumido os pontos de contravenção do bicheiro. Segundo a polícia, a morte do miliciano faz parte de um plano de ascensão de Adilsinho, com uma nova cúpula do jogo do bicho, da qual o bicheiro Rogério de Andrade faria parte.
- ZAP DO GLOBO: Receba as principais notícias do país e do mundo no seu celular; clique aqui e faça parte da comunidade do GLOBO
Aliança entre miliciano e bicheiro
Num áudio enviado para o contraventor Bernardo Bello, obtido pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) com autorização judicial, o miliciano Marco Antonio Figueiredo Martins, o Marquinhos Catiri, diz estar à frente dos negócios de Bello e que, por isso, precisou contratar seguranças: “A minha cabeça está valendo quatro milhões”. Ele também contou ser o responsável por pagar propinas às delegacias especializadas para que os policiais não reprimissem jogos de azar.
Bernardo Bello é réu no homicídio do rival na contravenção Alcebíades Paes Garcia, o Bid, morto em fevereiro de 2020, quando voltava dos desfiles da Marquês Sapucaí. Na última quinta-feira, o contraventor foi alvo de uma operação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Polícia Civil pela morte do advogado Carlos Daniel Dias, ocorrido em maio de 2022, no bairro do Cafubá, na Região Oceânica de Niterói.
- Contraventor na mira: Operação busca prender Bernardo Bello e mais cinco suspeitos de envolvimento na morte de advogado
De acordo com informações recebidas pela polícia, Bello chegou a travar uma guerra com Adilsinho e com o contraventor Rogério de Andrade pelo controle do jogo num trecho que vai do Engenho Novo, na Zona Norte, ao Leblon, na Zona Sul. Enfraquecido com a perda de aliados, alguns assassinados e outros que migraram para o bando rival, Bernardo teria entregue o controle de 47 pontos de apostas para a dupla.
Quem é Adilsinho
Adilsinho ficou conhecido em maio de 2021, após o convite de sua festa de aniversário viralizar. Com apenas 36 segundos, a gravação em preto e branco tinha trilha sonora do filme “O poderoso chefão” e fazia alusão ao envolvimento com a máfia dos cigarros. Imagens mostram três homens fumando charuto e bebendo num hotel luxuoso. O estilo ostentador e excêntrico não se limitou ao convite. Mesmo em meio à pandemia de Covid-19, Adilsinho celebrou o aniversário com uma festa para 500 pessoas no Copacabana Palace, hotel de luxo na Zona Sul do Rio.
Ele foi alvo de duas operações contra a máfia do cigarro. A primeira, batizada de Fumus, deflagrada em 2021 pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do estado. Na ocasião, o bicheiro teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, mas não foi encontrado, sendo considerado foragido. No entanto, no início de julho de 2022, uma liminar favorável determinou a suspensão da ação penal.
Adilsinho também foi alvo da Operação Smoke Free, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. A ação visava a prender também José Eduardo Cabral, filho do ex-governador Sérgio Cabral.