'Ele abraçou todos da família como se estivesse se despedindo', diz amiga de vítima eletrocutada após chuvas em Caxias

O corpo de Marcos Aurélio Aguiar foi sepultado na manhã desta terça-feira, em Caxias

Por — Rio de Janeiro


Rômulo Rodrigues Silva Cotias, filho de Marcos Aurélio, ao lado do caixão do pai, que foi eletrocutado durante as chuvas que atingiram o Rio Beatriz Orle / O Globo

Uma multidão se reuniu, na manhã desta terça-feira, no Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para o sepultamento de Marcos Aurélio Aguiar, morto após sofrer uma descarga elétrica dentro de casa. Familiares da vítima se emocionaram ao lembrar de momentos felizes que passaram ao lado dele, enquanto oravam, em coletivo, o Pai Nosso.

— É assim que o nosso tio vai ser lembrado. Uma pessoa de bom coração e bom chefe de família. Aqui é apenas o corpo, mas o espírito dele será eterno — afirmou o sobrinho de Marcos Aurélio.

Sepultamento de Marcos Aurélio Aguiar, vítima da chuva que atingiu o Rio no último fim de semana — Foto: Jéssica Marques

O mecânico, de 53 anos, um dia antes de morrer, passou o dia com a família na festa de aniversário de 23 anos do sobrinho que tem síndrome de Down.

— Ele estava muito feliz. Era uma felicidade incomum. Marcos a todo o tempo nos abraçava. Quando a festa acabou, ele deu um abraço forte em cada um. Este foi o último abraço que demos nele. É como se, no fundo, ele soubesse que algo fosse acontecer — lamentou Efigênia Alves, amiga de infância da vítima.

Marcos Aurélio era torcedor do Flamengo desde criança. Seu corpo foi velado com a camisa do time de coração.

— Ele dizia que quando chegasse a hora de partir que era para a família colocar o manto sagrado junto dele. Ele era um torcedor fanático do Flamengo. Seguimos o pedido dele — afirmou o sobrinho.

Marcos Aurélio é descrito pela família como um homem "calmo" e "muito parceiro". Ele estava em casa com o filho e a nora, no bairro Campos Elísios, quando foi surpreendido pela água da chuva que entrava pelas portas e janelas. Segundo contaram parentes, era por volta de 1h30 da manhã de domingo, quando Marcos acordou no susto. Ele chamou o filho e a nora e correu para tirar o celular que estava na tomada. Ao tocar no aparelho, sofreu uma descarga elétrica e morreu. Seu filho, de 30 anos, tentou salvá-lo, mas o choque elétrico foi tão forte que Marcos não resistiu.

— Ele morreu de um jeito muito trágico. Nosso querido amigo partiu de uma forma muito dolorosa. No dia anterior ele estava tão feliz! Todos que estão no sepultamento hoje estavam na festa. Ele era muito querido. É triste porque no sábado estávamos todos reunidos celebrando a vida. E hoje, estamos reunidos, velando a morte — disse um amigo do mecânico que preferiu não se identificar.

O filho de Marcos Aurélio, Rômulo Rodrigues, lamentou a morte do pai e deu detalhes do que aconteceu na madrugada da chuva.

— Quando eu corri para ajudá-lo já era tarde. Eu cortei a energia da casa e fiquei fazendo massagem cardíaca. Meu pai foi mais um na estatística. Meu pai não foi o primeiro e não vai ser o último a morrer em uma enchente. Espero que o governo olhe mais para a Baixada. A última vez que a nossa casa encheu assim foi há dez anos. Dessa vez, a água chegou até a canela. Foi uma fatalidade. Todos da casa poderiam ter morrido — lamentou o rapaz, que agradeceu o apoio de familiares e amigos neste momento de luto.

— Agradeço ao carinho e apoio de todos. Não só a minha família, não foi só eu, foi todo mundo que sofreu. O que estou sentindo hoje, todas as famílias que perderam alguém na enchente estão sentindo também. Se o socorro não tivesse demorado tanto, talvez meu pai ainda estivesse vivo.

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