Contaminação por tolueno que suspendeu fornecimento de água em Niterói foi quase o dobro do limite permitido

A operação do Sistema Imunana-Laranjal foi paralisada após a Cedae constatar alteração da qualidade da água bruta (ainda não tratada) na quarta-feira. Áreas de cinco municípios tiveram o abastecimento afetado

Por , e — Rio de Janeiro


Sistema Imunana-Laranjal, em São Gonçalo, teve o funcionamento interrompido após ser constata a presença de tolueno na água Fabiano Rocha/Agência O Globo

A concentração de tolueno, detectada no Rio Guapiaçu, na cidade de Guapimirim, perto de um duto desativado da Petrobras, chegou a 59 microgramas por litro, quase o dobro do máximo permitido em água potável, que é de 30 microgramas. O produto, altamente tóxico, é usado na fabricação de gasolina, solventes e tintas. Altamente danosa à saúde, a contaminação pela substância na água levou a Cedae a suspender o fornecimento para cerca de dois milhões de pessoas por mais de 40 horas.

Quais regiões foram afetadas pela contaminação por tolueno?

Foram atingidos os consumidores de Niterói, São Gonçalo, Maricá (distritos de Inoã e Itaipuaçu), Itaboraí e da Ilha de Paquetá, na capital. Ontem à tarde, 34 horas após a interrupção, as autoridades informaram que ainda não sabiam a origem do vazamento que paralisou o Sistema Imunana-Laranjal. A expectativa é que a distribuição seja retomada nas próximas horas, mas, a água pode levar de 12 a 48 horas para chegar às torneiras.

O que acontece se ingerir o tolueno?

Se ingerido em doses elevadas, o produto pode causar câncer e insuficiência renal. Em concentrações menores, a pessoa pode sentir náusea e tontura.

Infográfico — Foto: Editoria de Arte

Qual foi a causa da contaminação por tolueno no Rio Guapiaçu?

Para impedir que a água poluída chegasse à captação da Estação de Tratamento do Laranjal, em São Gonçalo, técnicos do estado improvisaram a montagem de duas barreiras no rio. Também foram recolhidas amostras do solo para verificar se há contaminação.

— Há varias hipóteses. O solo no entorno dessa área já poderia estar contaminado e, com as chuvas fortes, essa terra acabou arrastada para o rio. Como também pode ter havido um transporte irregular da substância (pelo oleoduto desativado) — explicou o presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon.

A investigação, que conta com o apoio de helicópteros e drones, se estende a outros pontos. O secretário estadual do Ambiente, Bernardo Rossi, explicou que as empresas com licença ambiental, inclusive aquelas localizadas no Polo GasLub (ex-Comperj), em Itaboraí, também estão sendo visitadas. Segundo ele, o responsável pelo vazamento poderá ser multado em até R$ 50 milhões

Em nota, a Petrobras informou não ter identificado qualquer anormalidade na operação de seus dutos e que autoridades estaduais estiveram ontem no GasLub e nada de anormal foi constatado.

O Sistema Imunana-Laranjal é composto pelo Canal de Imunana, que capta e leva a água dos rios Guapiaçu e Macacu até a uma elevatória de água bruta. Dali, é bombeada para a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Laranjal.

Autoridades ambientais de municípios cortados pelos rios do sistema não se recordam de outros episódios de contaminação tão graves. Esse tipo de ocorrência é mais comum na captação da Estação de Tratamento do Guandu, que abastece a capital e sete municípios da Baixada, e sofre com a poluição provocada por ligações clandestinas de esgoto e o despejo de produtos químicos por indústrias.

— Das nascentes até o ponto de captação da Cedae, no Canal de Imunana, existem algumas ocupações irregulares. Mas nada que se compare com o que acontece no Guandu. Para a gente, também foi uma surpresa — disse o secretário municipal de Meio Ambiente de Cachoeiras de Macacu, Loir de Lima.

Corrida aos mercados

Independentemente da origem, ontem pela manhã vários bairros da região abastecida pelo sistema já estavam com as torneiras secas. Em Niterói, supermercados viram seus estoques de água mineral sumir das prateleiras em pouco tempo, e algumas escolas suspenderam as aulas. Em São Gonçalo, foi decidido que a rede municipal de ensino não funcionará hoje.

A concessionaria Águas do Rio, que faz a distribuição para os consumidores na região afetada, montou um esquema emergencial com uso de balsas para abastecer as cidades atingidas e Paquetá, com prioridade para hospitais. Já a Polícia Rodoviária Federal (PRF) liberou, excepcionalmente, a circulação de caminhões-pipa pela Ponte Rio-Niterói.

O caso também mobilizou o Ministério Público, que, por intermédio do Núcleo de Nova Friburgo, cobrou da Cedae informações sobre as medidas adotadas para resolver o problema. As respostas devem ser entregues hoje. Ente os documentos requeridos pelo órgão o relatório preliminar sobre a identificação dos possíveis responsáveis pelo vazamento.

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