Caso Anic: Resgate de sequestro foi depositado em 40 contas

Polícia e MPRJ rastreiam caminho percorrido pelo dinheiro e descobrem que depósitos em reais feitos por família de vítima foram convertidos em US$ 3 milhões por doleiros. Filho de suspeito recebeu US$ 150 mil

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A advogada e estudante de Psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy Reprodução

A investigação sobre o desaparecimento da advogada e estudante de psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, que sumiu dia 29 de fevereiro após sair a pé de um shopping em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, revela o caminho percorrido por parte do dinheiro recebido pelos suspeitos de envolvimento no sumiço da mulher.

A quantia exigida em dólares, reais e bitcoins — no total de R$ 4,6 milhões — foi paga pela família da vítima no dia 11 de março de 2024. Uma parcela do dinheiro em reais foi depositada em 40 contas usadas por doleiros. Outra parte serviu para comprar bens como uma picape de luxo, uma motocicleta e 950 celulares que iriam abastecer uma loja de produtos eletrônicos de Teresópolis.

Por mensagens de celular, uma pessoa indicou a Benjamim Cordeiro Herdy, de 78 anos, as contas em que os depósitos deveriam ser feitos. Casado com Anic há cerca de 20 anos, ele é um dos herdeiros de um complexo educacional que deu origem à universidade Unigranrio, vendida pela família para outro grupo de educação em 2021.

A maior parte do dinheiro convertido em dólar ainda não foi recuperada. Apesar do pagamento dos valores exigidos, a advogada continua desaparecida.

Quatro pessoas foram presas, entre elas Lourival Correa Netto Fadiga. Ele é apontado pela polícia e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como mentor do crime e amigo da família da vítima há três anos, tendo se apresentado falsamente, na ocasião, como policial federal. Dois filhos de Lourival e uma ex-namorada dele também estão presos preventivamente por indícios de participação no esquema.

De acordo com a investigação, um comerciante de Foz Iguaçu — para onde eles e Benjamim viajaram juntos — disse, em depoimento, que Anic e Lourival se apresentavam como namorados e “já teria presenciado por diversas vezes o casal se beijando”. O documento diz ainda que “há fortes suspeitas que Anic, em razão desse relacionamento extraconjugal, tenha aderido ao plano criminoso de Lourival, ao menos inicialmente”.

Picape, moto e celulares

Henrique Vieira Fadiga e a irmã Maria Luísa Fadiga são suspeitos de ajudarem o pai de alguma maneira na empreitada criminosa.

Segundo a Promotoria de Investigação Penal de Petrópolis e de policiais da 105ªDP (Petrópolis), Henrique teria recebido US$ 150 mil de um doleiro após um depósito em reais ser convertido em moeda americana.

Já Maria Luíza teria emprestado o nome ao pai para emplacar uma picape, comprada por Lourival por R$ 500 mil em espécie, no dia 11 de março, data em que a família de Anic pagou o resgate — no mesmo dia, ele também comprou uma motocicleta no valor aproximado de R$ 30 mil. Maria Luiza também seria encarregada de receber 950 celulares comprados pelo pai com o dinheiro dos três depósitos feitos por Benjamim no valor de R$ 325 mil cada um em contas de empresas importadoras.

Já Rebeca Azevedo Santos, que seria uma ex-namorada de Lourival, também é suspeita de participar de uma negociação para recebimento dos celulares comprados com parte do dinheiro exigido para que Anic fosse libertada.

A quantia para pagar pelo resgaste de Anic foi colocada em uma mochila e seria entregue por Benjamim e Lourival no dia 11 de março em um shopping, na Zona Oeste. Quando a dupla estava a caminho do local, Lourival alegou ter recebido em seu celular uma mensagem determinando que levasse o dinheiro até uma cesta de lixo do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes, enquanto o marido de Anic aguardaria no shopping indicado pelo retorno da mulher.

A polícia apurou que o suspeito não esteve em nenhuma comunidade e sim numa concessionária, onde comprou uma picape. Os quatro presos respondem por crime de extorsão mediante sequestro.

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