Complexo de Israel: 22 tiroteios, dois mortos e sete desaparecimentos são registrados desde janeiro

Polícia Militar faz operações para conter o tráfico da região, de posse do Terceiro Comando Puro

Por — Rio de Janeiro


Painel pintado na comunidade do Rebu faz referência à cidade de Jerusalém Reprodução

A operação no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio, na manhã desta segunda-feira, chegou às autoridades ainda na sexta-feira, quando um ofício, assinado pelo comandante do 16ºBPM (Olaria), pedia reforço no efetivo de policiais da área. Anexos à solicitação, estavam registros do Disque-Denúncia (21 2253-1177) avisando sobre a atuação de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, frente do Terceiro Comando Puro nas cinco comunidades que compõem o complexo: Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas. Nos relatos, havia o registro de que traficantes da facção teriam invadido casas da região da Tinta, em Cordovil, bairro dominado pelo Comando Vermelho, e sequestrado o morador Romário Souza de Oliveira, de 18 anos, desaparecido desde então.

Segundo a Polícia Militar, dez pessoas foram presas durante a ação de segunda. Três fuzis, duas pistolas, duas granadas e drogas também foram apreendidos, e a Avenida Brasil, sentido Centro, chegou a ficar interditada por alguns minutos. As operações no Complexo de Israel são frequentes desde maio, quando sete foram registradas. Em junho, foram cinco e, neste mês, três. Como justificativa a elas, a instituição reforça os intensos conflitos entre as facções rivais por territórios e os impactos deles na rotina dos moradores, como os tiroteios e a construção de barricadas nas vias, o que impede o ir e vir das pessoas — e da polícia.

Desde janeiro deste ano, o Instituto Fogo Cruzado contabilizou 22 tiroteios no Complexo de Israel, além de dois mortos. Já a SuperVia, informou que as estações da região foram fechadas nove vezes no mesmo período. No mais, cerca de sete pessoas foram sequestradas nas comunidades, todas ainda desaparecidas. Os impactos na vida dos moradores inclui até mudança de horário em missas, como teria acontecido na Igreja de Santa Edwiges, em Brás de Pina — a Arquidiocese nega o ocorrido, mas moradores o confirmam —, e "blitz" de traficantes. Eles param ônibus e revistam os celulares dos passageiros para conferir se são de comunidades rivais ou da polícia. A depender do conteúdo encontrado, a pessoa é penalizada.

Em 11 de junho passado, um relatório fotográfico feito pela PM, com o apoio de empresas de telefonia, informou que 16 ruas das comunidades da Tinta, Quitungo e Guaporé, todas do Comando Vermelho, estavam interditadas por barricadas. Já na Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica Pau eram sete. No documento, os agentes reforçaram que nessas três últimas, chefiadas pelo Peixão, "foram observadas diversas ruas com acesso reduzido ou prejudicado pela presença de valas, não havendo possibilidade de liberação das vias por falta de maquinário e material específico".

As principais disputas acontecem entre o Complexo de Israel e a comunidade do Quitungo, em Brás de Pina. Esse bairro, assim como Cordovil, são de domínio do Comando Vermelho, por isso, é alvo constante. Em janeiro deste ano, três sequestros aconteceram por lá: Wagner Santana Vieira, de 36 anos, Wagner Motta Neves, de 33, e Paulo Victor Viera de Souza, de 16, foram levados entre os dias 4 e 14. O primeiro foi encontrado sem vida em Duque de Caxias, na Baixada, os demais continuam desaparecidos. Os três casos são investigados pela polícia como "acertos de conta" entre as facções.

Além deles e do Romário Souza, que sumiu no último dia 19, outros quatro desaparecimentos seguem sem solução. No dia 16 de abril, o casal Lohanna Miranda Santos da Silva, de 22 anos, e Darielson Azevedo Nunes, de 26, estava indo para um baile na comunidade Nova Holanda, no Complexo da Maré, onde os funkeiros MC Poze e Chefin se apresentariam, quando entraram por engano na Cidade Alta e nunca mais foram vistos. A família conta que traficantes do TCP entraram em contato assumindo autoria sobre a morte de ambos, e afirmaram que não entregariam os corpos.

Naquele mesmo dia, o motorista de aplicativo Leonardo Correia dos Santos, de 24 anos, sumiu, segundo parentes, após terminar uma corrida por volta das 20h, no Complexo de Israel. Ele estava dirigindo pela Rua Cel. Camisão, em Cordovil, quando aceitou uma corrida na Rua Ourique, em Brás de Pina. A suspeita é que ele possa ter morrido devido à cor da moto que pilotava, uma Yamaha Factor vermelha — coloração que identifica o CV. À época, a família negou que o rapaz tivesse envolvimento com o tráfico.

No dia 29 de maio, Stanley Pinheiro Fernandes Leite, de 19 anos, entrou por engano no Complexo de Israel e desapareceu. Ele estava acompanhado por dois amigos, quando foram abordados por traficantes do TCP e levados para um ferro-velho. Após uma sessão de agressões e xingamentos, os rapazes foram liberados, exceto Stanley, ainda procurado pela polícia.

A mãe dele, que preferiu não se identificar, contou que os três estavam de carro e entraram no Complexo de Israel por sugestão de rota do GPS. Para ela, o filho não foi liberado com os amigos porque os criminosos teriam descoberto que ele mora no Complexo do Chapadão, sob domínio do CV. Quando soube do crime contra o filho, ela foi até o local onde ele havia sido sequestrado, mas foi informada que não havia nada a ser encontrado.

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