Após desmentir ser o motorista do carro flagrado arrastando um suposto ladrão à janela, Rafael Queiroz tem usado o caso para movimentar as redes sociais. Em sequência de vídeos publicados esta semana, ele sorri ao dizer que mentiu para a imprensa e que vai guardar os registros para mostrar futuramente aos sobrinhos e à filha. Na última segunda-feira, ele prestou depoimento na 42ªDP (Recreio), onde afirmou ter inventado a história para ganhar engajamento. Agora, ele pode responder por falsa comunicação de crime, cuja pena é de um a seis meses de prisão, ou multa. Para um especialista, o comportamento de Rafael é mais comum do que se imagina.
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Homem que fingiu ser motorista que arrastou ladrão à janela do carro usa caso para movimentar as redes sociais
— Casos como este são antigos e se beneficiam da internet. É comum a gente ver as mentiras serem contadas em perfis falsos, por exemplo. O que a gente observa em situações assim é que a pessoa geralmente idealiza visibilidade, reconhecimento e admiração. Mentir, por mais que não seja algo moralmente recomendado, é visto com normalidade quando acontece num contexto que impacta a pessoa diretamente. A exemplo, quando ela tenta sair de uma situação, de uma encrenca — afirma Artur Costa, psicanalista e professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica.
O especialista lembra que, neste caso, o jovem contou uma história cheia de pormenores.
— Quando a mentira é por diversão, é frequente e rica em detalhes, a gente acende um alerta. O rapaz em questão criou uma narrativa ao redor da mentira, citou a família, explicou como segurou o braço do suposto ladrão, deu uma série de entrevistas narrando o medo, a preocupação que teve. Ele se colocou em risco e tem chance até de responder criminalmente por isso — diz o psicanalista.
De forma geral, Costa destaca que, quando as mentiras surgem por brincadeira, elas ganham um horizonte patológico. Segundo o especialista, a mitomania, como a patologia é clinicamente conhecida, acompanha características narcísicas e podem colocar a pessoa em risco ou constrangimento.
— Percebemos que pessoas mitomaníacas tendem a ter comportamento narcísico, não reconhecem que estão erradas e atribuem culpa aqueles que acreditaram nela — explica.
Críticas à polícia
No dia 26 de julho, Rafael contou à imprensa que a reação de segurar o braço do suposto assaltante e arrastá-lo à janela do carro aconteceu para proteger a família. Ele revelou que a mãe estava no banco do carona, enquanto a esposa e a filha estavam no banco de trás. Em entrevista à TV Globo, reforçou que não havia procurado a polícia imediatamente porque "não ia dar em nada".
— Minha reação foi de pai, de filho, de marido, de querer proteger, entendeu? Sou cidadão do bem. [...] Sinceramente, se eu chegasse lá ao batalhão e falasse que ele tentou pegar meu telefone, nós sabemos que não ia dar em nada. Ia fazer minha família entrar em constrangimento.
Homem fica preso à janela de carro no Recreio e é arrastado por avenida
'Por brincadeira'
O advogado Gustavo Amaral, que representa Rafael, afirmou que ele não imaginava que o caso ganharia proporção, e que ele agiu por brincadeira. No entanto, ele não entrou em detalhes a respeito do registro por furto que o cliente fez na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), após a situação. Segundo a polícia, Rafael responderá por falsa comunicação de crime, cuja pena é de um a seis meses de prisão, ou multa.
— Rafael recebeu o vídeo e o enviou para os amigos como uma brincadeira. Ele não fazia ideia de que isso tomaria essas proporções. Ele mandou para os amigos que brincaram ao dizer que ele era o rapaz do vídeo. Rafael achou engraçado e resolveu postar o vídeo no perfil do Instagram dizendo que ele era o cara da imagem — disse o advogado.