Rio tem inverno de turismo aquecido e preços na praia inflacionados como na alta temporada: mate e coco a até R$ 15

Com termômetros na casa dos 34 graus, aquecimento da indústria do turismo movimenta as ruas e a economia da cidade

Por e — Rio de Janeiro


Um homem passando com uma bandeja com drinks Guito Moreto/Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 23/08/2024 - 04:31

Inverno quente no Rio impulsiona economia turística

O inverno quente no Rio impulsiona a economia turística com preços inflacionados nas praias. Atrações e eventos atraem visitantes, elevando os preços de serviços e produtos. O aumento da temperatura e da afluência turística em agosto gera um cenário de alta temporada, com preços semelhantes aos praticados no réveillon e no carnaval. A cidade se prepara para receber eventos importantes, impulsionando a economia local e atraindo turistas nacionais e estrangeiros. A percepção de segurança melhora, contribuindo para a realização de eventos internacionais e impulsionando a economia do turismo.

Praia cheia e caçadores de selfie se acotovelando na Escadaria Selarón, na Lapa, são alguns dos sinais mais conhecidos do turismo carioca na alta temporada. Some-se a esse cenário aquela clássica inflação nos preços de produtos e serviços oferecidos aos visitantes, e eis o retrato do Rio no verão, em pleno janeiro. O curioso é que estamos em agosto. E é inverno — apesar da previsão de máxima de 34°C para hoje na Zona Sul, segundo o Alerta Rio, da prefeitura. Assim como a temperatura, a afluência de turistas domésticos e estrangeiros está, de fato, acima da média para a época. Algumas explicações já apresentadas foram a ampliação de voos no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, o crescimento da agenda de eventos corporativos e uma espécie de “efeito Madonna”, após a boa repercussão do show gratuito realizado pela Rainha do Pop em maio, nas areias de Copacabana.

Nesse janeiro fora de época — e como aconteceu no show de Madonna —, quem negocia com o aluguel de mesas e cadeiras na praia, além da venda de petiscos, água de coco, mate e caipirinha, trata de faturar. Os preços estão variando bastante, mas em alguns momentos se comparam aos praticados no réveillon e no carnaval. Ontem, um guarda-sol grande era alugado a R$ 50 no Leme, trecho da orla cada vez mais concorrido, enquanto na altura do Posto 6, em Copacabana, era oferecido por R$ 30. A percepção sobre a inflação da praia pode mudar, dependendo de quem é perguntado sobre o assunto.

A movimentação nas areias de Ipanema — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

— Domingo, Ipanema estava uma loucura de cheia. Sobre os preços, estão bons —disse o turista argentino Jorge Quintana, que mora em Buenos Aires.

Moradora de Duque de Caxias e frequentadora assídua do Leme, Tália Rodrigues diz que, de fato, os preços subiram na orla:

— Mas o preço vale a vista — reconheceu.

Preços não esfriaram com o fim da alta temporada — Foto: Guito Moreto

Em Ipanema, uma caipirinha de 700ml saía por R$ 30, enquanto no Leme a versão com fruta custava R$ 27,50. O latão de cerveja era vendido por barraqueiros por até R$ 15. Nas areias, havia ambulante cobrando R$ 15 por um copo de 400ml de mate. Mesmo preço da água de coco em uma das barracas entre os postos 8 e 9 de Ipanema. Na disputada Escadaria Selarón, na Lapa, os preços variam conforme a disposição de enfrentar seus 215 degraus. O turista que se limita a uma passada rápida para fotos na base paga R$ 5 por uma garrafinha de água — no topo, onde os visitantes são mais raros, a mesma quantia paga duas unidades.

Eventos em alta

Preços à parte, o efeito dos eventos no Rio — entre feiras e congressos — também explica esse aumento. Muitos desses visitantes optam por esticar a permanência na cidade ou chegam antes dos compromissos. A lista de eventos este mês, com potencial para atrair público nacional e estrangeiro, inclui, entre outros, o Rio Gastronomia, realizado pelo GLOBO, a Rio Innovation Week e a Meia Maratona do Rio.

As mulheres observam a placa com os preços das mercadorias — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

— Em agosto do ano passado, a ocupação média dos hotéis foi de 71,67% e a principal atração da cidade foi o show do DJ Alok nas areias de Copacabana, na comemoração do centenário do Copacabana Palace. Este ano, devemos, no mínimo, repetir ou superar esse percentual — avalia o presidente do Hotéis Rio, Alfredo Lopes.

Preços cobrados em pontos turísticos, como na Escadaria Selarón não esfriaram — Foto: Guito Moreto

Segundo estudos do Visit-Rio, em agosto do ano passado foram promovidos 35 eventos com público total de 245,5 mil pessoas. Este mês, serão 49 (40% a mais), com público previsto de 353,1 mil pessoas (43,85% a mais). E, agora, os turistas devem gastar (incluindo hospedagem,passeios e refeições) R$ 36,2milhões, contra um faturamento de R$ 20,6 milhões apurado em agosto de 2023.

Alfredo Lopes acrescenta que o desafio agora é ampliar o número de eventos de grande porte, para que esse fluxo de turistas se repita todos os meses do ano.

Vendedores ambulantes no calçadão — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

Netto Moreira, gerente-geral do Hotel Fairmont, em Copacabana, destaca a decisão tomada ainda em 2023, de ampliar a oferta de voos no Tom Jobim. Essa medida, ele lembra, permitiu a abertura de novas conexões do Rio com o exterior.

— O Rio é completo em atrativos: natureza, arte, gastronomia e cultura. A rede hoteleira também melhora continuamente. Mas a explicação desse aumento de visitantes se deve, sobretudo, ao efeito das mudanças no Galeão — reconhece Netto Moreira.

Nova percepção

Mesmo com incidentes trágicos no caminho — como o ataque a tiros, em outubro do ano passado, que matou três médicos participantes de um congresso na Barra da Tijuca, enquanto confraternizavam em um quiosque na orla —, a violênciadeixou de ser apontada como um dos principais problemas da cidade. Divulgado pela Fecomercio, um estudo revelou que, antes de chegar à cidade,42,6% dos visitantes tinham uma expectativa negativa da visita. Esse percentual caiu para 16,9% após passearem no Rio. Foram ouvidos 1,5mil turistas entre brasileiros e estrangeiros.

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A barraca de água de coco — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

— Ultimamente, as notícias positivas sobre o Rio são superiores (entre os visitantes) às negativas. É inegável que o show da Madonna teve um impacto gigantesco. Gerou o equivalente a 243 milhões de dólares em mídia espontânea em todo o mundo — diz a secretária municipal de Turismo, Daniella Maia.

O bom momento da cidade também aparece em pesquisas internacionais. Ontem, a coluna de Míriam Leitão revelou que o Rio é uma das três melhores cidades do mundo para as chamadas férias de trabalho (workcation), quando funcionários podem combinar trabalho remoto com lazer. A cidade superou Nova York, Berlim e Cingapura, ficando atrás apenas de Budapeste e empatou com Barcelona. A avaliação é do Barômetro Work From Anywhere.

Especializado na organização de eventos, o CEO da Hel Ecossistema, Fabrício Granito, destaca que a melhoria da percepção da segurança vai ajudar na captação de feiras e congressos internacionais.

— Isso é positivo porque a captação dessas atrações acontece com até dois anos de antecedência — diz Granito.

O otimismo continua em setembro por conta de mais uma edição do Rock In Rio. Segundo a buscadora de voos Kayak, houve um aumento de 201% na procura por voos domésticos, comparado a setembro do ano passado.

Um homem passando com uma bandeja com drinks — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

— O ano tem sido muito bom pois funcionamos no Riocentro, principal centro de convenções da cidade. Para o Rock in Rio já temos 70% dos 306 quartos reservados. E, antes do festival, teremos congressos — diz o gerente geral do Hotel Lagune, Daniel Pompeu.

* Estagiário sob a supervisão de Rafael Galdo

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