O governador Cláudio Castro anunciou na tarde desta segunda-feira a exoneração de dois nomes do primeiro escalão do estado, mas foi a saída do secretário de Polícia Civil, o delegado Marcus Amim, que mais chamou a atenção. Nos bastidores, a informação, segundo fontes, é de que a retirada de Amim da pasta teria dois motivos: o processo administrativo (PAD) para a demissão do delegado Mauricio Demetrio, preso por corrupção, associação criminosa, obstrução à Justiça e lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, estar em fase final e um depoimento de Amim à Polícia Federal sobre o caso Marielle.
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As mudanças foram consideradas decisões de caráter pessoal tomadas por Castro. O governador estaria incomodado com a ausência de Amim nas reuniões que ocorrem às segundas-feiras, com a presença do núcleo de segurança do governo, a começar pelos secretários. Para o lugar de Amim, vai o delegado Felipe Curi, que ocupava o posto de diretor do Departamento Geral de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DGHPP).
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Nos bastidores, uma das razões é que o estado teria atendido a um pedido do ex-secretário de Polícia Civil Allan Turnowski para não demitir Demetrio, cujo processo se arrasta há três anos, desde que ele foi preso. Amim estava prestes a assinar a demissão de Demetrio, cuja instrução do PAD já está encerrada, ou seja, em fase final. O próprio Turnowski também teria sugerido o nome de Felipe Curi, escolhido para ocupar a pasta.
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O jornalista Lauro Jardim já havia revelado em 2022, em sua coluna no GLOBO, mensagens trocadas entre Demetrio e Turnowski — que chegou a ser preso naquele ano, por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho. Em 6 de setembro de 2020, os dois avaliaram a possibilidade de Curi assumir a Polícia Civil. Seu nome foi considerado “ótima alternativa” por Demetrio, enquanto Turnowski respondeu: “Não sei. Acho muito imaturo. Mas é nosso”.
Castro também teria ficado insatisfeito com o depoimento de Amim à PF. O delegado contou que avisou ao delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios, abril de 2018, sobre a possibilidade de Ronnie Lessa ser a pessoa que atirou na vereadora Marielle Franco (PSOL), mas a informação não foi levada em consideração. Giniton era o encarregado do inquérito do homicídio da parlamentar e de seu motorista Anderson Gomes, executados há seis anos.
Amim, que assumiu em outubro de 2023, foi o quarto secretário de Polícia Civil nomeado por Castro: sucedeu Turnowski, Fernando Albuquerque e José Renato Torres. Seu caminho até o comando da pasta teria contado com a indicação do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (PL), influenciado pelo deputado Márcio Canella (União), que tem simpatia pelo delegado.
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Mudança até na lei
Sua nomeação, inclusive, só ocorreu depois que a Alerj aprovou um projeto de lei complementar do governador que mudava a lei orgânica da corporação: a regra anterior só permitia que o cargo fosse ocupado por quem tivesse exercido a função de delegado por 15 anos — Amim está na Polícia Civil desde 2002, mas só havia atuado como delegado por dez anos. Já Curi assume o novo cargo em meio a uma onda de confrontos na cidade e operações de enfrentamento à criminalidade.
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Sobre os bastidores de sua indicação, Curi disse: “Sou ligado somente a Deus, e o único grupo do qual faço parte é o da Polícia Civil”. Ele também afirmou que a “corregedoria é independente e que nada muda em relação a qualquer procedimento".
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Já Turnowski negou que tenha pedido mudanças na cúpula: “Eu estou afastado das funções e, por essa razão, sequer tenho mantido contato com quaisquer das pessoas citadas”. E prossegue: " Essas ilações não possuem qualquer fundamento e são absolutamente inverídicas".
Procurado, o governo estadual ainda não se manifestou sobre os bastidores das exonerações. A dupla missão, de comandar a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, saiu das mãos do coronel Leandro Monteiro e foi para as do coronel Tarciso Antônio de Salles Junior, atual corregedor-geral da Secretaria de Saúde.