Margot (Marieta Severo) é uma atriz que, às vésperas de terminar um filme, adia a realização da última cena. Afirma que precisa de mais tempo. Essa atitude está ligada a um fato objetivo, revelado na primeira metade da projeção, mas também diz respeito à subjetividade de uma personagem que tenta, a todo custo, controlar as situações — em especial, no que se refere à tarefa de cuidar do marido, Antônio (Zécarlos Machado), com Alzheimer em estágio avançado. Nesse momento dramático, Margot promove uma reaproximação com os filhos, Francine (Natália Lage) e Guto (Johnnas Oliva).
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Essa família dá a impressão de viver quase isolada do mundo. Margot não aceita a colaboração de enfermeiras no cotidiano com Antônio. Ambos moram numa casa enorme e afastada, aparentemente mantida sem qualquer ajuda, e passeiam por uma praia deserta. As únicas exceções são as passagens em que Margot aparece no trabalho — mesmo ali, porém, há somente a presença do produtor, Carlos (Isio Ghelman) — e no consultório da médica (Bárbara Santos). Em relação aos filhos, o público recebe breves informações sobre o universo profissional de Francine e a crise financeira de Guto, mas eles surgem sempre —e apenas — na companhia dos pais.
Dirigido por André Bushatsky, “Domingo à noite” tem sua maior força no rendimento do elenco, principalmente de Marieta Severo em interpretação introspectiva e intensa — expressiva tanto nas cenas de interação verbal quanto nos instantes de silêncio. Já as fragilidades ficam concentradas nas sequências de embate emocional e na utilização excessiva da música de André Abujamra.