Em 1987, Todd Haynes lançou “Superstar: the Karen Carpenter story”, protagonizado somente por bonecas Barbie, e um dos focos era a pressão que Karen sofria de sua mãe controladora. Mais de 35 anos depois, Haynes retorna ao feminino controlador, agora numa dupla que se espelha. Em “Segredos de um escândalo” -- que é inspirado em uma história real --, Gracie (Julianne Moore e Natalie Portman no filme de Todd Haynes) é uma mulher que viveu um caso com um menino de 13 anos e foi presa por isso; após a soltura, casaram-se (pois ele já não era mais menor) e constituíram família. Vinte anos depois disso, Elizabeth (Natalie Portman), uma atriz, vai interpretar Gracie num filme e se oferece para conviver com seu modelo, travando contato com envolvidos no episódio original (advogado, ex-marido, filho mais velho).
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Tudo parece pacífico, mas é apenas um jogo de aparências. Gracie é controladora por meio de sua fragilidade: não pode ser confrontada, cai em prantos quando cancelam uma encomenda, faz comentários controladores sobre as roupas das filhas (e dá uma balança de presente a uma delas). Elizabeth, por sua vez, chega mais próximo do que o costumeiro num estudo para interpretação: ela praticamente vampiriza a família, e Gracie em especial, quase como uma espécie de sadismo.
Assim como em “Meia-noite no jardim do bem e do mal”, de Clint Eastwood, também filmado na mesma pequena cidade de Savannah, o que choca é o contraste entre a manutenção das aparências a todo custo e os desejos frustrados correndo por trás disso. Haynes intensifica essa discrepância ao usar na fotografia tons quase de aquarela, e diante desse pano de fundo filmar o embate tácito entre duas sanguessugas anímicas em variações preciosas de olhar, de gestual, de movimento.