Um estudo canadense que acompanhou 358 pacientes de câncer por um ano mostrou um bom resultado dos produtos derivados de maconha em atenuar as dores provocadas pela doença. Na maioria dos casos, a cannabis medicinal conseguiu ajudar a reduzir a prescrição de medicamentos opioides, que possuem efeitos colaterais mais intensos.
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Os cientistas descreveram o resultado do trabalho num artigo publicado terça-feira na revista BMJ Supportive & Palliative Care, do grupo British Medical Journal. Apesar de o estudo ter uma natureza observacional e não ser um teste clínico (que funciona como um experimento controlado), os pesquisadores apontam um cenário favorável à prescrição para estes casos.
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No acompanhamento, os médicos pediam a pacientes que avaliassem seu convívio com a dor respondendo a dois questionários que são padrão em investigações clínicas.
Em um deles, o BPI (Brief Pain Inventory), a pontuação da severidade geral da dor caiu 35% em média ao fim do estudo, e a "interferência" da dor na vida dos pacientes caiu 44%. No outro sistema de pontuação, o ESAS-r, a redução média de dor relatada pelos pacientes foi de 46%.
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"Dados do mundo real deste estudo amplo, com registros prospectivos em diversos centros médicos, indicam que a cannabis medicinal é um tratamento complementar seguro e efetivo para alívio da dor em pacientes de câncer", escreveram os cientistas, liderados pelo médico Saro Aprikian, da Universidade McGill, de Montreal.
Alguns efeitos colaterais da cannabis foram observados no trabalho, relatam os cientistas, mas ocorreram em poucos pacientes e não chegaram a levantar muita preocupação.
"Ao final, entre 15 efeitos colaterais relatados, 13 não eram graves", escrevem, citando problemas como sono e fadiga. "Os dois eventos sérios, uma pneumonia e uma crise cardiovascular, foram avaliados como não relacionados à cannabis medicinal."
Um dos méritos do estudo publicado agora é que ele foi abrangente e envolveu pacientes com diversos tipos de câncer. Os três mais comuns listados no trabalho foram tumores de mama, intestino e genitourinário.
Por se tratar de um acompanhamento por observação, porém, o estudo não permite em princípio estabelecer que o alívio da dor ocorreu nos pacientes como uma relação de causa e consequência. Os autores sugerem que outros cientistas busquem agora replicar os resultados em experimentos controlados, comparando o uso da cannabis medicinal com placebo.
Composição equilibrada
Uma particularidade do estudo canadense é que ele também monitorou quais tipos de preparado de cannabis medicinal os pacientes estavam tomando.
Alguns produtos possuem teor maior de THC (tetraidrocanabinol), princípio ativo associado ao "barato" e ao efeito psicoativo da maconha. Outros têm carga maior de CBD (canabidiol), ligado à sensação de calma e relaxamento.
Os preparados que pareceram ser mais eficazes no estudo, porém, foram aqueles com parcelas balanceadas.
"Os produtos com equilíbrio entre THC e CBD parecem ter melhor desempenho quando comparados com aqueles mais carregados em THC ou mais carregados em CBD", escreveram os cientistas.