Parkinson: até um terço dos casos pode estar ligado a 2 fatores de risco evitáveis, diz novo estudo

Trabalho associou exposição a agrotóxicos e golpes repetidos na cabeça, como durante esportes de colisão, a uma parcela significativa dos pacientes

Por O Globo — Rio de Janeiro


Professora de Neurologia da Universidade do Alabama em Birmingham, nos EUA, Haydeh Payami, líder de estudo sobre fatores de risco modificáveis para o Parkinson. Divulgação / Steve Wood / Universidade do Alabama em Birmingham (UAB)

Um número significativo de casos da doença de Parkinson pode ser associado a dois fatores de risco modificáveis. É o que afirmam pesquisadores do departamento de Neurologia da Universidade do Alabama em Birmingham (UAB), nos Estados Unidos, em estudo publicado este mês na revista científica npj Parkinson's Disease.

Os cientistas avaliaram 1.223 voluntários: 808 pacientes com o diagnóstico e 415 indivíduos saudáveis para comparação. No trabalho, eles explicam que, enquanto fatores como idade e genética não podem ser alterados, alguns aspectos entre os chamados de ambientais podem sim ser modificados para evitar o surgimento da doença.

Após análise, os pesquisadores identificaram dois riscos evitáveis ligados a até um terço dos diagnósticos: golpes repetidos na cabeça sofridos em atividades como esportes de colisão e exposição a herbicidas e pesticidas (agrotóxicos). Este segundo já era um fator conhecido e foi ligado sozinho a 23% dos pacientes, afirmam os autores do novo estudo. O impacto dos golpes, porém, foi uma nova descoberta.

“A associação da DP (Doença de Parkinson) com golpes repetidos na cabeça sem manifestação médica foi um achado notável neste estudo e deve ser testado e confirmado em outros estudos. A fonte mais comum de golpes repetidos na cabeça são os esportes de colisão. Estudos demonstraram consequências adversas dos esportes de colisão (por exemplo, futebol americano) na saúde do cérebro mais tarde na vida”, escreveram.

Eles dizem que os dois fatores de risco em conjunto responderam por 1 em cada 3 casos da doença entre os homens do estudo, e por 1 em cada 4 casos, entre as mulheres. Tratam-se de diagnósticos que poderiam ter sido evitados, diz Haydeh Payami, professora do departamento de Neurologia da UAB e principal autora do estudo.

"A doença de Parkinson está aumentando rapidamente em todo o mundo, e há uma suposição tácita de que não há prevenção, mas há. Nossa pesquisa demonstrou que uma fração substancial da DP no Extremo Sul (região dos EUA em que o trabalho foi conduzido) é atribuível a fatores de risco que podem ser reduzidos ou evitados. Nosso artigo apresenta um número de quantos casos poderiam ser potencialmente evitados se os produtos químicos tóxicos fossem eliminados e se tornássemos esportes de contato como o futebol americano mais seguros”, afirma em comunicado.

Os pesquisadores, no entanto, ponderam que a estimativa de que os dois fatores podem responder por até 1 a cada 3 diagnósticos pode variar a depender da região analisada. Citam como exemplo que muitos agrotóxicos encontrados em produtos nos Estados Unidos são proibidos na Europa.

Eles explicam que hoje cerca de 5% dos casos de Parkinson são causados diretamente por mutações genéticas hereditárias, e que os outros 95% sejam provocados por uma série de fatores externos que desencadeiam a doença em indivíduos geneticamente suscetíveis.

O novo trabalho tem suas limitações, como ter analisado os voluntários apenas por meio de questionários preenchidos pelos próprios pacientes, mas ajuda a elucidar quais são esses fatores de risco – especialmente quais são os que há a possibilidade de se intervir.

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