Câncer de pênis: tratamento inédito é eficaz para casos avançados da doença, mostra estudo brasileiro

Trabalho pioneiro mostra que a combinação de imunoterapia e quimioterapia dobra a taxa de resposta

Por O GLOBO — São Paulo


O Brasil é considerado um dos países com maior incidência de câncer de pênis no mundo. Pixabay

Um trabalho inédito, feito no Brasil, mostrou que a combinação de quimioterapia com imunoterapia é eficaz no tratamento de câncer de pênis avançado. O Brasil é o país com maior incidência de câncer de pênis no mundo e os resultados desse estudo, que oram apresentados nesta segunda-feira (3) na ASCO Annual Meeting 2024, maior congresso de oncologia do mundo, realizado em Chicago, nos Estados Unidos, prometem mudar o protocolo de tratamento da doença não só no Brasil, mas no mundo todo.

— O que nós fizemos foi o primeiro estudo com resultados positivos com imunoterapia e quimioterapia — diz o médico oncologista Fernando Maluf, que conduziu o estudo em conjunto com o Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG), grupo sem fins lucrativos, criado em 2009 por médicos dedicados ao desenvolvimento da pesquisa em câncer na América Latina. — É a primeira vez que o Brasil, através de um estudo clínico, modifica o tratamento do câncer para o mundo inteiro e essa é uma coisa extremamente relevante.

O estudo clínico HERCULES – LACOG 0218 começou a ser desenvolvido em 2020. Ao longo do percurso, 33 pacientes foram acompanhados, com exames de imagem a cada seis semanas. Os pacientes receberam imunoterapia e quimioterapia por seis aplicações, seguido de imunoterapia até completar 34 aplicações. 

Os resultados mostraram que 75% dos pacientes tiveram algum grau de redução do volume tumoral, e que 39,4% deles apresentaram redução significativa. De acordo com os pesquisadores, somados ao controle da doença e dos sintomas, isso demonstra o benefício do novo esquema de tratamento avaliado.

— Esse é um estudo que dobrou a taxa de resposta do que se via antes e que conseguiu, em uma doença que tira a vida de pessoas em menos de 9 meses, ter pessoas sem evidência da doença depois de dois anos ou mais. o que é absolutamente incrível — avalia Maluf.

Além disso, dois marcadores foram identificados através de exames nas amostras tumorais que são potenciais preditores de melhor resposta ao tratamento, são o P16 e o TMB. Pacientes com P16 positivo e TMB alto tiveram taxa de respostas (redução do volume tumoral) de 55,6% e 75%, respectivamente.

O Brasil é considerado o país com maior incidência de câncer de pênis no mundo, em especial nas regiões Norte e Nordeste. Este tumor representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem os homens brasileiros, segundo informações do Ministério da Saúde.

O câncer de pênis é uma doença secundária ao HPV, à má higiene e à falta de circuncisão. Em geral, esse tipo de turmo acomete pessoas pouco favorecidas economicamente, o que fez com que houvesse pouco investimento em pesquisa nessa área. Segundo Maluf, não houve avanço para o tratamento de casos avançados da doença nas últimas seis décadas.

“Os resultados não são apenas uma vitória para a ciência brasileira, mas também uma prova de que a pesquisa clínica pode e deve olhar para as populações mais vulneráveis”, comenta Maluf, em comunicado.

“O sucesso deste estudo demonstra que investir em inovação para todos gera resultados significativos, beneficiando não apenas os pacientes envolvidos diretamente, mas também a comunidade global, já que vamos mudar o tratamento desta doença em todo mundo”, completa. 

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