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Esqueça os ambientes suntuosos do Palácio de Buckingham, as deliciosas maquinações políticas e a liturgia dos encontros da Rainha com o primeiro ministro. Desista também das demonstrações de fleuma e de controle das emoções entre a realeza. A temporada final de “The Crown”mais parece um dramalhão latino, com direito a (pecado dos pecados) lágrimas escorrendo entre cílios postiços.
Quatro episódios acabam de chegar à Netflix. Os capítulos finais serão lançados em 14 de dezembro.
Afirmar que nesta nova fase a série perdeu totalmente seu valor seria uma injustiça. Ela continua suntuosa e garantindo entretenimento com embalagem de luxo. Porém, dá para garantir que o roteiro foi degradado. Cheia de diálogos banais, a produção agora está quase vulgar na comparação com o passado. “The Crown” faz pensar num diamante visivelmente falsificado.
Acompanhamos os últimos meses de vida de Lady Di. Ela se divorciou depois de dar a famosa entrevista à BBC em que disse a frase: “Havia três pessoas no meu casamento”, uma referência a Camilla Parker Bowles. Parece querer seguir em frente. Está à frente de uma campanha mundial contra as minas terrestres. Tem uma viagem planejada para a Bósnia, onde o conflito que terminou em 1995 deixou de herança muitos mutilados. Lá, corajosa e comprometida de verdade, vai caminhar em um terreno perigoso, cercada de fotógrafos, emprestando a força de sua imagem a uma causa boa.
Antes disso, contudo, embarca para Saint-Tropez com os dois filhos a convite de Mohamed Al-Fayed (Salim Daw). O dono da Harrods é um antigo amigo, pelo menos ela acredita que seja. Só que, na versão acolhida pelos roteiristas, ele tem um plano irrevelado de reunir Diana e seu filho, Dodi (Khalid Abdalla). Sonha com o romance dos dois e o leitor sabe qual foi o desfecho desses acontecimentos.
A série redime a Rainha e Charles de toda a frieza e crueldade que eles mostraram na temporada anterior. E vilaniza os Al-Fayed. Retrata Mohamed como um empresário sem escrúpulos. Ele divide a responsabilidade da tragédia com os paparazzi. Não se trata de documentário e a ficcionalização é uma licença legítima aqui. O.k. Contudo, a imaginação dos roteiristas não tem limites. Isso irrita.
O desempenho de Elizabeth Debicki impressiona. A atriz incorpora cada gesto da princesa, sua maneira de olhar, abaixando o queixo, e seu jeito elegante de se movimentar. Tudo isso é fruto de boa técnica. Numa série formalista como essa, a emulação, claro, é um valor. Já Dominic West (Charles) envereda por um caminho diferente. Ambos se saem bem. Mas a direção tateia entre esses dois caminhos e isso é um problema. Faltam coerência e unidade.
Mas o pior acontece nas cenas de aparições fantasmas. Tanto Diana quanto Dodi, mortos, dialogam com os enlutados. Aí já nem parece “The Crown”. Está mais para “The Walking Dead”.