Patrícia Kogut
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Estreia da Paramount+, “The curse” já atrai de cara pelos créditos. A série é idealizada e estrelada por Nathan Fielder e Benny Safdie. E Emma Stone (dona de um Oscar por “La La Land”) faz a protagonista. Essa congregação de talentos, por si, justificaria a atenção do leitor. No entanto, basta assistir aos dois episódios disponíveis na plataforma (serão dez, lançados num ritmo de um por semana) para constatar que há muitas outras razões para acompanhar essa produção.

É uma dessas narrativas que causam estranheza. Não se trata bem de uma comédia, mas contém sarcasmo; tampouco é uma tragédia, todavia provoca descrédito na humanidade. Em alguma medida, ela abraça a linguagem de um reality, só que é um drama com muita crítica. Suas farpas miram em comportamentos contemporâneos.

A questão do valor da boa imagem pública para se conseguir um lugar no mundo está no centro da trama. O principal alvo de deboche é a falsa preocupação com causas sociais, usada como instrumento de marketing.

Nathan Fielder é Asher Seigel, casado há pouco tempo com Whitney (Emma Stone). Eles fundaram uma empresa de desenvolvimento imobiliário no Novo México. O casal trabalha para lançar um conjunto habitacional numa comunidade chamada Española. As casas criadas por eles se pretendem sustentáveis, futuristas por fora e aconchegantes por dentro. As fachadas são espelhadas e, por isso, refletem uma paisagem bonita que o lugar na verdade não tem. De perto da construção, enxerga-se apenas o céu azul e as árvores. Mas esse é só um pedaço da vista e uma ilusão de ótica. Na realidade, o clima é desértico e a cidade, empoeirada e feia. Por causa desse reflexo, pássaros são atraídos para as janelas achando que ali é céu aberto, se espatifam e morrem. É uma metáfora das ilusões que o casal tenta vender a incautos.

Para impulsionar e dar credibilidade à empreitada comercial, eles decidem fazer um programa de TV. Na tela, pretendem projetar uma imagem positiva. No piloto que preparam, são dirigidos por , Dougie (Safdie) amigo de infância de Asher.

Eles fazem entrevistas em que aparecem como pessoas de coração grande, sensíveis às demandas da comunidade mais carente, simpáticos às melhores causas. O esforço hercúleo de ambos para provar sua suposta bondade deixa ainda mais evidente quem eles são. Um dia, Asher dá uma nota de 100 dólares a uma criança na rua. O gesto é para a câmera. Logo depois, ele arranca o dinheiro da menina. Ela faz um escândalo e o amaldiçoa. Daí o título, que significa “a praga”. Uma crise conjugal que vai se estabelecendo e também puxa o enredo.

“The curse” não poupa ninguém. No segundo episódio, ela demole o mito da arte moderna engajada através de uma personagem indígena, Cara (Nizhonniya Austin), uma performer. A série pratica a iconoclastia pura no palito. Vale conferir.

Mais recente Próxima 'The Crown' volta sem o encanto de antes e vira dramalhão. Cotação: três estrelas (razoável)