Patrícia Kogut
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Antes que o ano acabe, quero comentar uma cena recente de “Terra e paixão” que fez o público vibrar. Refiro-me ao beijo de Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo). Tempos antes de ele acontecer no ar, a torcida do público já fervia. O vasto fã clube do par nas redes usava a hashtag #kelmiro e foi se multiplicando a cada sequência mais calorosa. As redes sociais invariavelmente se movimentavam muito no horário de exibição da novela de Walcyr Carrasco. Como se sabe, hashtag de hoje equivale a palavra de ordem em passeata de ontem. É tipo um grito preso na garganta do público.

Os personagens já tinham trocado um selinho, mas o beijão ardente do último dia 12 durou meio minuto. Não é pouco em “tempo de televisão”. Houve declarações de amor e lágrimas. Kelvin e Ramiro, que seriam figuras secundárias, foram ganhando uma centralidade inesperada. Vale lembrar que as novelas são obras abertas, o que significa que, se houvesse grande rejeição a eles, o autor poderia ter mexido na história e diminuído, ou até suprimido essa trama. Ocorreu o oposto.

Tudo isso é bom, mas não é novo.

É bom em primeiro lugar porque trata-se de uma prova da força da televisão aberta. Essa mídia alcança todos os rincões do Brasil e precisa agradar a grupos variados e espelhar todos eles de alguma maneira. É um objetivo imenso. A teledramaturgia tem que refletir a sociedade que ela retrata. Só assim cairá no gosto popular. “Terra e paixão” evidenciou, com esse par, que fez isso. Quando a TV tradicional aponta uma luz tão poderosa para comportamentos-tabu, ela mostra que tem função social também. Esclarece, desmonta o preconceito, endereça o obscurantismo.

Porém, isso não é novo. Primeiro porque os amores cheios de impedimentos estão na própria essência da teledramaturgia. Desde sua origem no Brasil, os enredos de maior sucesso separam os pares românticos e enchem seu caminho de obstáculos. O mundo conspira contra esses pares, para, nos capítulos finais, os espectadores suspirarem com os reencontros e as promessas de “felizes para sempre”. E também, sobretudo, porque esse não é o primeiro beijo entre dois homens já visto nas novelas. Em 2014, “Amor à vida”, também de Walcyr, entrou para a História. Foi com Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso). Todo mundo lembra. Naquele momento, foi uma novidade. Agora, com Kelvin e Ramiro, chamar de novidade é legítimo só se for por razões de marketing.

Félix e Niko, Amo à Vida — Foto: TV Globo
Félix e Niko, Amo à Vida — Foto: TV Globo

Aproveitar que estamos perto da virada de ano pode ser um bom pretexto para imaginar que num futuro não tão distante um beijo entre dois homens ou duas mulheres numa novela não será uma excepcionalidade. Até a expressão “beijo gay” parece algo velho, que merece ser superado logo, já que não se fala em “beijo hétero”. Beijo é beijo.

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