Patrícia Kogut
PUBLICIDADE
Por

Assisti aos seis episódios de “Alexandre, o nascimento de um deus”. Era um dos principais lançamentos do streaming na semana do carnaval e tenho a desculpa do dever profissional. Fui em frente, admito, com entusiasmo. Me julguem. Em meu favor, o personagem retratado pela série é um dos mais interessantes da História e vale qualquer viagem. Contra mim, no entanto, há vários ótimos argumentos.

Quando o enredo começa, Alexandre (Buck Braithwaite), nascido em 356a.C., ainda é bem jovem. Ele está no exílio desde um grave desentendimento com o pai, o Rei Felipe II. Tem uma relação amorosa com Heféstio (Will Stevens). Os dois são vistos juntos em cenas românticas que deram o que falar nas redes sociais, mas que não se repetem de forma tão explícita nos capítulos seguintes. Até que, convocado pelo pai, Alexandre volta para sua Macedônia natal. Durante essa visita, em meio a intrigas palacianas, Felipe é assassinado e Alexandre sobe ao trono.

Em outra ponta, a série retrata o que se desenrola na Pérsia, maior reino da época. É um ambiente de prosperidade, liderado por Dario (Mido Hamada).

Alexandre, grande estrategista militar, quer os territórios de Dario. O choque entre os dois puxa a história.

Sem querer desmerecer alguns talentos que participaram das novelas bíblicas produzidas pela TV Record, “O nascimento de um deus” faz pensar em todas elas. As externas no deserto traem aquilo que tentam desesperadamente esconder: a multiplicação da areia via muitos, muitos mesmo, efeitos de computação. Esse recurso se repete nas sequências de batalhas, replicando os soldados e os cavalos, num resultado falso, quase pueril. Nos cenários de estúdio, a luz entra por frestas, tudo é cinzento, menos os numerosos tapetes — afinal, é o Oriente.

A multiplicação de guerreiros e de dunas só não é mais caricatural do que a caracterização. Dario usa tantas camadas de maquiagem que ficamos matutando como consegue fazer a guerra sob o peso de tanto cosmético e das perucas. É mesmo um herói. Já Braithwaite, numa interpretação, digamos, minimalista na comparação com a de seu antagonista, investe no franzir do cenho e assim vai vencendo suas sucessivas batalhas. Nada disso, entretanto, é mais constrangedor do que a atriz que interpreta o Oráculo (Souad Faress), abrindo e fechando cada episódio, declamando textos dramáticos.

Alexandre, o Magno, o guerreiro que ganhou o mundo espalhando a civilização helenística, salva a pátria na série também. O roteiro respeita os registros históricos e isso basta para tornar a produção atraente. Entre mortos e feridos, há ainda bons depoimentos de especialistas e, finalmente, a série mostra os trabalhos de escavação liderados pela Dra. Calliope Papakosta, diretora do Instituto Helênico de Pesquisa da Civilização Alexandrina.

Papakosta — Foto: Netflix
Papakosta — Foto: Netflix

No mais, o leitor deve esperar uma produção tosca e cheia de canastrões, mas que pode pegar pelo braço até o fim.

Você pode gostar também de ler a crítica de "Cleópatra". E me siga no Instagram, é @colunapatriciakogut.

Mais recente Próxima 'Griselda', da Netflix, é novelão com crime. Sofia Vergara brilha. Saiba por que você deve conferir