Patrícia Kogut
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Lançada pela Nettflix, “Griselda” se baseia na história real da colombiana Griselda Blanco. Nos anos 1970, já experiente narcotraficante em Medellin, onde cresceu, ela emigrou da Colômbia para os Estados Unidos. Abriu rotas de comércio de cocaína e dominou a cena do tráfico em Miami até ser presa em 1985. Até Pablo Escobar, que mais tarde ocupou seu lugar, teria dito ter medo dela.

Apesar disso, classificar a trama só como uma “biografia” seria um erro. Até porque muitos dos acontecimentos foram floreados para atribuir ainda mais sabor à narrativa. Tampouco é apenas um enredo policial. Os seis capítulos são puxados por melodrama e ação em medidas iguais.

Pablo Escobar e Griselda Blanco — Foto: Reprodução
Pablo Escobar e Griselda Blanco — Foto: Reprodução

A minissérie incorpora ingredientes das novelas latinas, mas com orçamento de Hollywood. Então as perucas toscas vistas nas produções mexicanas da televisão têm equivalentes criados pelos melhores profissionais do ramo de caracterização. O espírito, contudo, é o mesmo.

Com tudo isso, “Griselda” oscila entre a aventura irresistível e o folhetim barato.

A protagonista, figura multidimensional, é retratada com poucas facetas. Alguns de seus aspectos fundamentais perdem a credibilidade com essa compactação. É o caso do instinto materno da personagem. O tempo todo ela repete que “está fazendo tudo aquilo (cometendo seus crimes) em benefício dos filhos”. Mas fica difícil de acreditar, já que ela é pouco vista na companhia deles. Quando isso acontece, parece uma mãe relapsa, para dizer o mínimo. Pena.

Sofía Vergara contou com equipe de maquiagem e cabelo para viver narcotraficante em 'Griselda' — Foto: Agência O Globo/Netflix
Sofía Vergara contou com equipe de maquiagem e cabelo para viver narcotraficante em 'Griselda' — Foto: Agência O Globo/Netflix

A protagonista tem, sim, um lado de fácil conexão com o público: é uma fora da lei, mas uma batalhadora. Além disso, se mantém fiel aos seus comparsas e à omertà, aquele código de silêncio que rege todas as máfias. Não entrega ninguém, embora acabe traída.

Um dos pontos altos da série é Sofia Vergara. Ela se notabilizou por seu trabalho em comédia — sobretudo em “Modern family”. Aqui, surge suntuosa num papel dramático e, muitas vezes, antipático, longe dos encantos do humor. A caracterização também colabora para compor essa personagem pesada e afasta a atriz do arquétipo de beldade sexy, que também a consagrou.

O elenco como um todo é de talentos. A reconstituição de época, detalhada, ajuda a carregar o público para uma Miami sem lei e um tempo em que viajar carregando quilos de drogas só escondidinha na roupa enganava as autoridades. Os anos 1980 ficam parecendo uma época muito remota quando não havia câmeras de segurança em todos os lugares e era possível matar e esfolar à luz do dia sem que a polícia tivesse imagens dos crimes.

“Griselda” tem fragilidades e merecia o dobro de episódios. A história é muito resumida e termina abruptamente, sem explorar seu drama com a minúcia que a trajetória da personagem mereceria. Culpa do roteiro sem fôlego, que apara parte da carga de emoção.

Ainda assim, a minissérie captura, envolve e merece toda a sua atenção.

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