Patrícia Kogut
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Mandy Patinkin tem um currículo comprido e cheio de prêmios no teatro, na televisão e no cinema. O seriemaníaco o conhece de “Criminal minds” e de “Homeland”, mas talvez não saiba que, além de grande ator, ele ainda é dono de uma poderosa voz de tenor. Por apreciar muito o seu trabalho, fui conferir “A morte entre outros mistérios”, lançada pelo Star+. Há sete episódios disponíveis, ao fim da temporada, serão 10.

Patinkin não decepciona. Já a produção, escrita e produzida por Mike Weiss e Heidi Cole McAdams, é cheia de fragilidades.

Acompanhamos uma aventura policial a bordo de um transatlântico. O luxuoso Varuna foi fretado por duas famílias, os Collier e os Chun. O propósito da viagem é fechar um negócio que vai tirar os Collier da falência. Patinkin vive Rufus Cotesworth — sempre apresentado com a locução adjetiva de “o melhor detetive do mundo”. Ele está aparentemente aposentado das atividades investigativas e viaja acompanhando os Chun como segurança privado. A coprotagonista é Imogene (Violett Beane). Ela já tinha perdido o pai em 2005, quando ficou órfã de mãe, morta numa explosão ao ligar o carro. A investigação do crime na época, conduzida por Rufus, deu em nada. Imogene, ainda pré-adolescente, foi acolhida e criada como filha pela família que empregava sua mãe, os Collier.

A morte e outros detalhes — Foto: Star+
A morte e outros detalhes — Foto: Star+

Nos dias de hoje, outro crime acontece a bordo. E ele está relacionado àquela morte ocorrida em 2005. Rufus vai investigar com a ajuda de Imogene. Os dois eixos cronológicos puxam o enredo.

Parece confuso e é. Sobretudo porque todo esse carretel de personagens e acontecimentos se soma a outras tantas informações relativas a outras subtramas. Com isso, parte dos episódios serve a reiterar e a esclarecer o emaranhado de historinhas. A ideia é garantir a boa compreensão, mas isso nem sempre dá certo.

“A morte entre outros mistérios” é cheia de citações. Rufus tem traços de Hercule Poirot. Como o detetive belga da literatura, a cada insight que tem, ele festeja e se orgulha de si próprio. Há, aliás, várias alusões à obra de Agatha Christie. A mais óbvia delas é a “Morte no Nilo”, em que Poirot desvendava um assassinato a bordo de um cruzeiro e todos eram suspeitos. Mas o espectador também se lembrará de Sherlock Holmes e de seu assistente, Watson, que ecoa as descobertas geniais do chefe. E de “The White Lotus”, com seus grupos de ricaços em férias confinados. As referências são ótimas, verdade. No entanto, beber em boas fontes não significa que a série faça bom uso delas. Não faz.

Um empilhado de epígrafes, a linda direção de arte e um bom elenco ajudam, mas não bastam para garantir a qualidade da produção. O roteiro oscila entre o mistério com alguns bons ganchos e uma historinha infantil, levada por uma direção que de vez em quando namora com a comédia. O público se sente tratado como criança. Sem clareza, o resultado naufraga.

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