Patrícia Kogut
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Quem estiver buscando um drama bonito, leve, mas paradoxalmente também pesado, vai gostar de “Um dia”. A produção se baseia no best-seller de David Nicholls. Em 2011, ele foi adaptado para o cinema. O filme estrelado por Anne Hathaway e Jim Sturgess fez sucesso e ainda é lembrado. Agora, a história chegou à Netflix em 14 episódios curtinhos — de menos de meia hora. E, em poucos dias, ela já escalou a lista das mais vistas da plataforma no mundo (dados do Flixpatrol.com). Et pour cause. Aquela ideia de que as séries permitem desenvolver aquilo que pode parecer abreviado num longa-metragem de duas horas se confirma aqui.

Recomendo muito.

Acompanhamos a relação de Emma Morely (Ambika Mod) e Dexter Mayhew (Leo Woodall, ótimo ator da segunda temporada de “The White Lotus”) através dos anos.

A ligação deles começa na festa de formatura na Universidade de Edimburgo, em 1988. Ela, aluna brilhante e estudiosa, divide um apartamento apertado com uma amiga divertida, Tilly (Amber Grappy). Veio de Leeds, cidade que considera monótona e sem oportunidades. Ele é o mais popular da faculdade, bonito, doce e nascido numa família privilegiada.

Ambos têm a vida pela frente.

As promessas que se abrem para os dois têm uma equivalência com o roteiro. A história pode caminhar para qualquer direção, assim como o futuro dos personagens. Esse ponto de partida já faz o espectador grudar na tela.

Na noite em que se conhecem, depois de beberem, acabam na cama dela. Apesar do desejo mútuo, o encontro é platônico. Eles conversam muito e, a uma certa altura, ela quer saber como ele acredita que estará quando tiver 40 anos. Dexter responde que será “rico famoso”. Essa profecia feita em tom de piada será lembrada adiante no enredo.

Nos anos seguintes, os reencontramos, sempre no dia 15 de julho. Esse recurso da dramaturgia faz a ação saltar e ser dinâmica. É como se o público recebesse boletins de atualização de um vínculo cuja construção está em andamento.

Há um ponto curioso. É que a evolução da tecnologia nos meios de comunicação aparece como um personagem incorpóreo na história. Nos anos 1980, vemos cartas e recortes de jornal. Os computadores existem, mas são raros e de mesa. Há muitos telefones públicos alimentados por moedas. Mais tarde, já perto de 2000, as críticas culturais publicadas nos jornais impressos mostram sua força. E assim por diante.

“Um dia” é feita de doçura e crueldade, amizade e amor e relação tóxica. A composição dos personagens tem profundidade. Eles são multidimensionais, ricos e verdadeiros. Não há maniqueísmo, nem julgamento moral no desenvolvimento de suas trajetórias. O público vai enxergar o balde de água fria que é atirado naquela sopa de sonhos juvenis. E se emocionará muito. Não perca.

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