Patrícia Kogut
PUBLICIDADE
Por

Para o espectador que procura uma série sobre moda tendo a História como pano de fundo, sugiro “Balenciaga” (no Star+). Ela será tema de uma próxima crítica. Hoje, o assunto é “The new look”, produção histórica que, ao contrário, tem a moda apenas como cenário. Ela segue estilistas muito conhecidos no período da ocupação nazista em Paris, na Segunda Guerra. Retrata as proibições de todo tipo, as suásticas nas bandeiras hasteadas pela cidade e os cartazes em que se lia “proibida a entrada de judeus” na porta dos estabelecimentos. Há cinco episódios na AppleTV+ — serão dez no total. Recomendo com entusiasmo.

O enredo avança e recua na cronologia entre 1937 e 1955, mas é mais centrado na ocupação (de 1940 a 1944). As estrelas da moda que trabalhavam para Lucien Lelong criaram modelos para as mulheres dos oficiais alemães. Já Coco Chanel namorou um SS, (Claes Bang), e foi mais longe do que simplesmente tentar sobreviver sem fazer marola. Ela se tornou colaboradora.

O elenco é de primeira. Ben Mendelsohn, ator que ganhou o Emmy em 2015 por “Bloodline”, vive Christian Dior. Juliette Binoche faz Coco Chanel, John Malkovich, Lelong e Glenn Close, a poderosa editora da “Harper’s Bazaar” Carmel Snow. Maisie Williams, que era uma menina em “Game of Thrones”, ressurge adulta, como Catherine Dior. As atuações, no geral, emocionam.

The new look — Foto: Divulgação
The new look — Foto: Divulgação

Abrindo o primeiro episódio, Christian Dior aparece falando para uma plateia lotada na Sorbonne, já nos anos 1950. É uma sinalização que, depois da guerra, ele emergiu como o símbolo da esperança e de futuro. As perguntas que os estudantes formulam são o pretexto para ele relembrar os anos difíceis. Dior vivia com a irmã caçula, Catherine, membro da resistência. Reuniões clandestinas aconteciam em seu apartamento até ela ser capturada pela Gestapo e levada para um campo de concentração. Na vida real, foi considerada heroína e condecorada quando os horrores passaram.

Em outra ponta, seguimos Chanel. Ela já fazia sucesso quando Dior, Balmain, Pierre Cardin, Balenciaga e outros ainda eram iniciantes. Arrogante, malandra e pouco solidária com os mais jovens, passou a guerra morando no Ritz, o hotel parisiense que hospedou chefões da SS. Há cenas em lugares conhecidos, uma delas, no restaurante Maxim’s, onde Chanel sentou à mesa com Himmler.

Dior e Coco têm histórias paralelas e, pelo menos até os cinco primeiros episódios, só se cruzam rapidamente. É que no coração da série estão interrogações sobre os limites entre a tolerância a um regime assassino e a adesão a ele sem grandes hesitações. Se é que existe mesmo uma divisa entre uma coisa e outra. O ótimo roteiro de Todd A. Kessler vai estabelecendo um contraste entre fronteiras morais. Uma tarefa e tanto.

“The new look”, apesar do título, ironicamente, não é tão new assim: ela faz pensar nos dias atuais, com a extrema direita e o antissemitismo, odiosos, ganhando força pelo mundo.

Para ouvir o "Fora de série" no "Estúdio CBN", é só clicar aqui.

Para me seguir no Instagram, é @colunapatriciakogut.

Mais recente Próxima Os altos e baixos de 'A morte entre outros mistérios', série com ator de 'Homeland' no ar no Star+