Patrícia Kogut
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No último domingo, recomendei “The new look” (o leitor acha outras críticas no www.patriciakogut.com), da AppleTV+. Aquela produção dialoga com “Cristóbal Balenciaga”, que é o tema de hoje. A produção do Star+ tem seis episódios — todos eles já disponíveis na plataforma. É um programão, e não só para quem entende de moda. O espectador em busca de uma trama saborosa com fundo histórico pode conferir sem medo. Trata-se de entretenimento de primeira, com elenco de talentos e fotografia e figurinos da melhor qualidade.

As duas séries se detêm sobre o período da Segunda Guerra, com atenção especial à ocupação alemã em Paris, entre 1940 e 1944. “Cristóbal Balenciaga” se concentra no seu biografado e deixa o painel amplo em segundo plano. Os acontecimentos alheios aos dramas pessoais do estilista até aparecem, mas o roteiro se interessa mais em contar a trajetória dele.

O espanhol Balenciaga (Alberto San Juan) se instalou na França no fim da década de 1930, fugindo do franquismo. Acabou pegando os terríveis anos do nazismo em Paris. Nessa época, Coco Chanel já era uma estrela e surgiam jovens talentos como Christian Dior e Pierre Balmain. Diferentemente de seus colegas, ele conhecia e dominava cada etapa de seu trabalho. Idealizava seus modelos e tinha ideias geniais, mas também sabia cortar, costurar e de calcular o que tornaria a silhueta feminina mais perfeita (para os padrões da época, claro). Cuidava com obsessão de cada detalhe. Fazia e refazia até gostar do que via. É Chanel (Anouk Grinberg) quem, numa cena, resume suas capacidades: “Ele é um estilista no sentido mais verdadeiro da palavra, um cirurgião plástico dos modelos, sabe corrigir imperfeições. Os outros são simplesmente designers de moda”. Era sincero: ela não era exatamente generosa para falar sobre os colegas.

Alberto San Juan — Foto: david herranz
Alberto San Juan — Foto: david herranz

Balenciaga também ficou conhecido pela aversão aos holofotes. Acompanhava até os desfiles em sua maison observando atrás das cortinas. Por isso, uma grande inspiração do roteiro está em evidenciar esse comportamento reservado. O estilista não dava entrevistas. Até aceitar conversar com e editora de moda do “The Times” Prudence Glynn (Gemma Whelan, de “The game of thrones”). A conversa deles é o fio condutor do enredo. Entre doce e antipático, ele vai abrindo seu passado, fazendo silêncios reveladores sobre os tempos da guerra, e dando respostas ríspidas, e por isso mais reveladoras ainda, a respeito de sua vida afetiva. Alberto San Juan se sai muito bem como o estilista de gestos miúdos que escondia a emoção. Uma passagem é especialmente desafiadora para o ator: mostrar contenção até quando Balenciaga está dominado pelo ódio na competição feroz com Christian Dior (Patrice Thibaud). Como aprendemos em “The new look”, Dior foi o queridinho da França no pós-guerra e conquistou a clientela dos outros.

Recomendo conferir as duas séries, elas se complementam.

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