Patrícia Kogut
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GERADO EM: 28/07/2024 - 06:29

"Encontro marcante: documentário na Max aborda legado do nazismo"

O documentário "A sombra do comandante" na Max destaca o encontro entre Hans Jürgen Höss, filho de um nazista, e Anita Lasker-Wallfisch, sobrevivente do Holocausto. O filme aborda a complexidade das gerações subsequentes lidando com o passado nazista e questões atuais como antissemitismo. O encontro entre vítima e descendente do mal traz reflexões profundas sobre a história e o presente.

Hans Jürgen Höss tem 87 anos. É filho de Rudolf Höss. Durante o Holocausto, o nazista esteve à frente do campo de Auschwitz, envolvido diretamente no assassinato de mais de um milhão de pessoas — a grande maioria de judeus. Anita Lasker-Wallfisch, de 98 anos, vive em Londres. É uma violoncelista judia e sobrevivente do campo, onde era obrigada a tocar na orquestra com outros prisioneiros. O documentário “A sombra do comandante”, dirigido por Daniela Völker, promove o improvável encontro entre essas duas figuras, passados quase 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. A produção acaba de chegar à Max e é imperdível.

Hans é uma das crianças retratadas em “Zona de interesse”, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2023. Rudolf foi o responsável pela implementação do complexo de Auschwitz. O longa acompanhava o cotidiano idílico da família do nazista durante a guerra. Instalados numa casa colada ao campo, ele, a mulher e os filhos levavam uma vida “perfeita”. A fumaça dos fornos crematórios os alcançava pelo ar, mas ninguém “notava”. Os Höss tocavam sua rotina, alheios aos horrores que aconteciam ao lado.

O filme de Jonathan Glazer reconstituiu a casa nos detalhes. No documentário, Hans é levado por Daniela Völker a visitar o lugar da vida real. A única observação do filho do nazista ao entrar pelo hall e seguir o corredor é banal: “Parecia tudo maior”. Em seguida, ele relembra a “infância muito feliz” e as brincadeiras constantes com os irmãos. O pai, segundo ele, era afetuoso e incapaz de praticar os atos bestiais pelos quais foi enforcado em 1947, condenado por crimes contra a humanidade.

Anita Lasker-Wallfisch — Foto: Divulgação
Anita Lasker-Wallfisch — Foto: Divulgação

Hans é negacionista, pelo menos quando as filmagens começam. Tem um filho pastor, que também participa do longa. A filha de Anita, a psicanalista Maya, é outra figura essencial na produção. A maneira como as gerações seguintes de alemães encaram os atos sanguinários de seus antepassados nazistas está no centro de tudo.

O documentário marca vários gols, a começar pelos seus personagens — mais exemplares que eles não há. De um lado, está o filho de um expoente do mal. Do outro, uma vítima dele, quase centenária, absolutamente lúcida e dona de uma sabedoria impressionante. Daniela Völker, acertadamente, não se limita a opor extremos. Ela não perde a infâmia de vista, mas cede um lugar importante para as inúmeras questões que orbitam em torno de um tema tão delicado e complexo. A produção só falha ao não incluir em seus letreiros as datas das filmagens. No mais, trata-se de uma reconstituição histórica da melhor qualidade. E esse não é seu único feito. Ela abre uma janela para o passado, com olhos de hoje e mirando no futuro. Leva a uma reflexão sobre o antissemitismo e a xenofobia em geral com imigrantes e refugiados, ainda vicejantes em 2024. Muito do que vemos na tela, infelizmente, está atualíssimo.

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