Crítica
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Por Patrícia Kogut

É preciso pesquisar muito no Star+ para encontrar “Conversas entre amigos”. A série irlandesa, entretanto, vale a escavação. Pequena pérola de delicadeza, ela se baseia no romance homônimo de Sally Rooney. É a mesma autora de “Normal people” (confira a crítica). Parte da equipe — o diretor, Lenny Abrahamson, e a roteirista, Alice Birch — se repete também.

Os 12 episódios curtos retratam as relações entre duas amigas e ex-namoradas — Frances (Alison Oliver) e Bobbi (Sasha Lane) — e um casal um pouco mais velho do que elas — Nick (Joe Alwyn) e Melissa (Jemima Kirke).

Frances e Bobbi têm pouco mais de 20 anos, dividem um apartamento apertado, se conhecem desde a escola, partilham confidências e têm laços sólidos e estreitos. Nick e Melissa são casados, ela é escritora, ele, ator. Moram numa casa bonita, onde dão festas cheias de convidados interessantes, que conversam sobre literatura e poesia.

Numa dessas festas, Frances e Nick se encontram num quarto casualmente. E acabam se beijando. O mesmo ocorre com Bobbi e Melissa. Acompanhamos o turbilhão de sentimentos que toma conta de Frances a partir desse momento.

Como “Normal people”, “Conversas entre amigos” foca naquilo que se pode classificar como “alfabetização em relações afetivas” de Frances. É a quebra da sua inocência. Ela se encanta perdidamente com um homem que domina o jogo da sedução, dono de uma malícia que ela não tem. Nick chama, ela vai. Assim, passa uma tarde com ele na cama. É a sua primeira vez com um homem, revela ela logo de cara.

Assim, começa o sofrimento da manipulação. Frances escreve, Nick custa a responder. Ele some e reaparece. Por aí vai.

O “Conversas” do título é uma referência às trocas de mensagens eletrônicas que marcam as relações contemporâneas. Elas amarram toda a trama. Mas não só isso. O uso da palavra “conversas” faz pensar sobretudo na comunicação que falta, nos emojis que resumem sentimentos de carga pesada, como se não fossem grande coisa.

À medida que a fragilidade de Frances se agrava, a intimidade dos personagens vai sendo mais e mais exposta. A câmera respira com eles nas cenas de sexo. O espectador tem a dimensão da dor e da frustração da protagonista. O desempenho do elenco, magistral, contribuiu muito para legitimar tudo. “Conversas entre amigos” é bem triste também. Trata de solidão, traição, delicadeza e sensibilidade. É como se vários interruptores fossem acionados ao mesmo tempo. Merece toda a sua atenção.

P.S.: Vai aqui um aviso aos incautos assinantes do Star+. Os episódios estão dispostos fora de ordem. Já reclamamos aqui, mas eles não resolveram. Cuidado.

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