Crítica
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Por Patrícia Kogut

Com um capítulo forte e de mais de uma hora, “Successionchegou ao fim anteontem na HBO. Daqui para a frente, tem spoiler.

As bolsas de apostas ferveram o fim de semana inteiro. O Twitter também. A interrogação geral era: “Qual dos irmãos ocupará o trono?”. A formulação, entretanto, estava equivocada. O certo seria perguntar: “Como ficará o jogo de poder nas empresas, já que os filhos de Logan Roy não têm competência para herdar o trono?”.

O roteirista, Jesse Armstrong, continuou conduzindo sua trama numa rota paralela à de “Rei Lear”. O personagem de uma das mais importantes obras de William Shakespeare também sofreu com a divisão de seu reino entre as filhas, Goneril, Cordelia e Regan. Traições e conspirações marcam a peça. Elas também puxaram a série desde a estreia.

Na tragédia de Shakespeare, as filhas perdem. Albany, o marido fraco de Goneril, leva o reino.

Armstrong fez igual na televisão: nem Kendall (Jeremy Strong), nem Shiv (Sarah Snook) nem Roman (Kieran Culkin) ocuparam o lugar do patriarca.

A presidência ficou com Tom (Matthew Macfadyen), o marido sem coluna vertebral de Shiv. Inadvertidamente, foi ela quem “vendeu” as qualidades dele para Lukas Matsson (Alexander Skarsgård). Tom é um adesista, explicou Shiv. Era disso que Matsson precisava.

Houve um momento doce, em que os irmãos choraram a morte do pai. Foi no apartamento de Connor (Alan Ruck), o filho tolo, o equivalente ao Bobo da Corte em “Rei Lear”.

Depois dessa sequência, tudo desandou. Kendall foi abandonado. Seu envolvimento na morte de um rapaz, tão enterrado no passado que parecia ter virado mentira, voltou a assombrá-lo. Foi uma punição tardia.

O episódio seguiu uma linha de coerência, sem rupturas. Fez pensar na cena recente em que Logan procurou os filhos para tentar uma aliança e foi rejeitado. Antes de sair, esbravejou: “Vocês não são pessoas sérias”.

Ele tinha toda razão.

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