Crítica
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É comum ver séries vitoriosas ganharem spin offs. Para os roteiristas, é uma chance de explorar e desenvolver melhor personagens que antes eram só laterais. Para os atores, trata-se de uma oportunidade de protagonizar uma trama em que só apareciam em segundo plano. Finalmente, para o público, fica a sensação de frescor, de novidade. Aconteceu com “Breaking bad” e “Better call Saul”, com “The walking dead” e “Fear the walking dead”, e com “Game of Thrones” e “A Casa do Dragão”, só para dar alguns exemplos consagrados. Agora é a vez de “Ferry” chegar à Netflix. Ela mira o público que acompanhou com gosto as duas temporadas da belgo-holandesa “Operação Ecstasy”.

A trama recua no tempo, ou seja, é ambientada antes dos acontecimentos do enredo que deu origem a ela. Recapitulando rapidamente, “Operação Ecstasy” teve duas temporadas. Ela acompanhava a aventura de Bob Lemmens (Tom Waes) e Kim De Rooij (Anna Drjver). Eles eram policiais infiltrados numa quadrilha de traficantes de drogas e fingiam ser casados. Alugaram uma casa vizinha à do bandido chefe da quadrilha, Ferry Bouman (Frank Lammers). A ação se passava na Bélgica, com algumas cenas na Holanda. Os atores usavam o neerlandês e, de vez em quando, falavam francês.

“Ferry” se desenrola alguns anos antes. Começa quando Bouman era um traficantezinho de ecstasy sem expressão buscando um lugar no mundo dos grandes bandidos. Os criadores da série já declararam em entrevistas que se inspiraram na vida de Janus van Wessenbeeck, o “Pablo Escobar da Europa”.

“Ferry” nos apresenta a um Bouman ambicioso, que se aproveita da prisão de um chefão para se tornar o fornecedor de uma rede internacional de fornecimento de ecstasy. É quando ele ganha musculatura e passa a atuar como líder de sua atividade. Ele ainda está namorando Danielle Van Marken (Elise Schaap, ótima atriz), que se torna sua mulher depois. A série não exige que o espectador tenha assistido a “Operação Ecstasy” — embora, claro, seja melhor para entender mais profundamente os personagens.

A produção é de qualidade. Conta com elenco de talentos e apresenta um ambiente que não estamos acostumados a ver na tela, a Bélgica distante de Bruxelas. Fora isso, figurinos e cenários não deixam a desejar a outras tramas ambientadas no universo dos mafiosos, clássicos adeptos das roupas extravagantes e das casas decoradas com sofás de estampas de animais. Todavia, do ponto de vista da narrativa, o leitor não deve esperar grandes inovações. É uma história de máfia bem feita sim, contudo construída de acordo com a cartilha das fórmulas esquemáticas. Malvados têm lá sua camada humanizadora, porém, sem requintes de carpintaria.

O espectador prende a respiração diante do suspense, mas é uma boa e velha história de bandido.

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