Samuel de Assis, de 'Vai na fé' e 'Rensga Hits!', comenta seus 20 anos de carreira e abre que 'anônimos e famosos' dizem a ele que escondem orientação sexual

— A gente está muito feliz. Amamos, fazemos com amor, estamos felizes com essa história. Ela estar com todo esse sucesso é reflexo de muita coisa: da alegria de estarmos no projeto, da representatividade, de ali ter temas importante...

O morador do Rio de Janeiro também está no ar em "Rensga Hits!", série do Globoplay em que interpreta Kevin, um segurança que namora um cantor, vivido por Alejandro Claveaux. Na história, ambos escondem a orientação sexual.

— Recebo muito retorno do público. Ainda estou num momento dividido: as pessoas falam comigo por causa do Benjamin e por causa do Kevin. As pessoas falam de tudo: dão parabéns, dizem que estão vivendo coisas parecidas. Muita gente conta que está passando por isso, que viveu isso. Anônimos e famosos. Kevin gerou identificação — comenta o ator, de 40 anos.

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Os espectadores também se identificam com o Benjamin da novela das sete. O personagem, um bem-sucedido advogado, vive dilemas de amor. É casado com Lumiar (Carolina Dieckmann), mas tem uma antiga paixão, Sol (Sheron Menezzes):

— Sobre Benjamin, o maior assédio que eu sofro é por conta da representatividade. Dizem: "Estamos juntos, que bonito que você está lá na novela, (o personagem) é um cara maneiro, bem-sucedido".

A dobradinha com Carolina Dieckmann começa nos bastidores de gravação. O ator diz ter se atentado ao fato de a colega de elenco ter uma maneira parecida de trabalhar:

— Nos conhecemos no set, na sala de ensaio. E foi uma delícia, uma troca muito bonita. Eu acho que a gente se identifica no modus operandi da coisa. Temos jeitos parecidos. A gente decora parecido, estuda de um jeito semelhante. Nossa memória é fotográfica.

Mesmo com a projeção da novela, Samuel de Assis tem pouco mais de 53 mil seguidores no Instagram. Questionado a respeito de seu alcance na web, ele diz acreditar que o número reduzido se deve à pouca frequência na rede e ao fato de seus trabalhos terem sido, em maioria, na TV fechada:

— Estou num caminho ok. Bem ok. Eu não era um ator grande, conhecido, da mídia aberta. Eu tenho uma carreira longa, graças a Deus bem-sucedida, feliz, nos streamings, no teatro, no cinema. Nunca fui superconhecido na mídia aberta. Este é o trabalho que está me dando isso pela primeira vez. Eu acho que agora as pessoas estão começando a chegar. O caminho inverso de você precisar ter seguidores para ter mídia aberta é que é o perigo. O fato de ter mídia aberta e partir daí conseguir seguidores é natural. A novela não tem um mês no ar. E eu já quadrupliquei o número de seguidores. Fato é que isso não é uma coisa que me faz parar o tempo para avaliar. Não sou a pessoa mais "instagramável" e informatizada que existe. Eu costumo dizer que sou um analfabeto tecnológico. Não entendo nada. Sei postar vídeo e foto, responder as pessoas. Já levei bronca de muita gente que diz que tenho que postar mais, compartilhar vídeo...

Vez ou outra, Samuel mostra parte de sua vida pessoal e a curtição em festas do Rio de Janeiro. Recentemente, ele esteve em festivais de verão na cidade e diz ser zelosamente abordado por quem quer tirar foto ou elogiar seu trabalho:

— Nunca passaram dos limites. No último fim de semana, fui brincar carnaval em alguns lugares e senti exatamente isso: as pessoas vêm falar que eu sou o cara da novela, o "nosso advogado". É o que mais tem acontecido. Estão entusiasmadas de ser um homem preto ali bem-sucedido fazendo um advogado, sabe? É o que mais tem chamado a atenção.

Com um elenco majoritariamente preto na frente e por trás das câmeras, "Vai na fé" tem dado o que falar. Samuel, que já viveu personagens de diferentes profissões na ficção (cantor, eletricista, jurista, entre outros), avalia a decisão da Globo de priorizar a diversidade na escalação.

— Há um atraso. Eu acho que apesar de, infelizmente, ainda estarmos comemorando, em pleno 2023, o fato de suar e ter uma representatividade grande, isso é um marco histórico. É uma novela de sucesso, com 70% do elenco preto, sem ser novela de escravo, com pretos em todos os tipos de personagens. E dando audiência. É isso que a gente precisa provar para o Brasil ainda. E a gente dá audiência, sim. A representatividade é para todos as funções e todos os níveis. A gente tem diretor preto, produção preta e um grupo de autores com representatividade ali.

Além da questão racial, os papéis que Samuel aceita fazer também têm representatividade na sigla LGBTQIAP+. "Na forma da lei", série de 2012 da Globo pela qual o ator tem um carinho especial, ele interpretou Ademir, um jornalista que vivia um romance com um delegado:

— Eu também amei muito o Lucas de "Insânia" (Star+) e "Lov3" (Prime Video da Amazon). Tenho carinho pelo Silas da segunda temporada de "3%" (Netflix). Foi a partir dali que emendei 16 séries na vida.

Fora da ficção, Samuel diz que até pode se identificar com novos termos relacionados a sexualidade (Bela Gil disse ser sapiossexual e Iza, demissexual, como Giovanna Ewbank), mas prefere manter reserva a respeito do assunto:

— Eu posso até me identificar com várias dessas correntes. Mas estou num momento tão meu, tão feliz, mergulhado tão profundo nisso que acho que não quero e não vou falar sobre esse tipo de coisa. Meu momento agora é falar sobre meu trabalho.