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Alemanha inicia lento processo de retomada de atividades, e Merkel pede respeito às restrições

Concentrações de mais de duas pessoas continuam proibidas, e distância mínima de 1,5 metro deve ser respeitada em locais públicos
Policiais de máscara em Dresden, na Alemanha, no primeiro dia de reabertura gradual do país Foto: MATTHIAS RIETSCHEL / REUTERS
Policiais de máscara em Dresden, na Alemanha, no primeiro dia de reabertura gradual do país Foto: MATTHIAS RIETSCHEL / REUTERS

BERLIM —  Muitos estabelecimentos comerciais da Alemanha reabriram as portas nesta segunda-feira, na primeira fase de uma operação de suspensão gradual do confinamento, em um país com a epidemia do novo coronavírus " sob controle ", segundo as autoridades. Antes de entrar na nova fase, o país, que está sendo observado pelo resto do mundo, testou mais de 1,7 milhão de pessoas e ampliou drasticamente a oferta de leitos de UTI. Os casos de curados já são maiores do que os de internados. Mesmo assim, a chanceler federal Angela Merkel afirmou estar "muito preocupada" com a possibilidade de que os alemães relaxem com o fim de algumas restrições.

A retomada das atividades em lojas de alimentação, livrarias e concessionárias de automóveis, entre outros tipos de comércio, está sendo realizada com uma série de restrições. Só puderam reabrir estabelecimentos com no máximo 800 metros quadrados, e as concentrações de mais de duas pessoas continuam proibidas. Dentro ou fora dos estabelecimentos, as pessoas também devem manter uma distância mínima de 1,5 metro entre si.

Medidas e cronograma
Medidas adotadas
testagem em massa
O país testou mais de
1,7 milhão de pessoas.
Atualmente realiza 120 mil exames por dia.
mais ofertas de leito
Aumentou drasticamente o número de leitos na UTI e já recebeu 200 pacientes graves de outros países-membros da UE.
isolamento precoce
A Baviera foi a primeira região alemã a decretar o isolamento, que ocorreu em todo o país em 22 de março.
Cronograma
20/4
Reabertura de lojas de alimentação, livrarias e concessionárias, com no máximo 800 metros quadrados na maior parte do país, com exceção da Baviera.
Uso da máscara é obrigatório.
30/4
Merkel se reúne com governadores para reavaliar as medidas de isolamento social.
4/5
Escolas e centros do ensino voltam a funcionar gradativamente, começando pelos alunos mais velhos em todo o país, com exceção da Baviera;
Salões de cabeleireiros terão permissão para funcionar, desde que adotem medidas de higiene e evitem filas;
Fim de controles nas fronteiras com a Áustria, Suíça, França, Luxemburgo e Dinamarca.
Sem previsão
Restaurantes, teatros e casas de show permanecerão fechados ao público, e a realização de serviços religiosos segue proibida
Pelo menos até 31/8
Grandes aglomerações continuam proibidas no país até o final de agosto.
Fonte: Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa
Medidas e cronograma
Medidas adotadas
testagem
em massa
mais ofertas
de leito
isolamento
precoce
O país testou mais de
1,7 milhão de pessoas. Atualmente realiza 120 mil exames por dia.
Aumentou drasticamente o número de leitos na UTI e já recebeu 200 pacientes graves de outros países-membros da UE.
A Baviera foi a primeira região alemã a decretar o isolamento, que ocorreu em todo o país em 22 de março.
Cronograma
20/4
Reabertura de lojas de alimentação, livrarias e concessionárias, com no máximo 800 metros quadrados na maior parte do país, com exceção da Baviera.
Uso da máscara é obrigatório.
30/4
Merkel se reúne com governadores para reavaliar as medidas de isolamento social.
4/5
Escolas e centros do ensino voltam a funcionar gradativamente, começando pelos alunos mais velhos em todo o país, com exceção da Baviera;
Salões de cabeleireiros terão permissão para funcionar, desde que adotem medidas de higiene e evitem filas;
Fim de controles nas fronteiras com a Áustria, Suíça, França, Luxemburgo e Dinamarca.
Sem previsão
Restaurantes, teatros e casas de show permanecerão fechados ao público, e a realização de serviços religiosos segue proibida
Pelo menos até 31/8
Grandes aglomerações continuam proibidas no país até o final de agosto.
Fonte: Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa

Sucesso: Os segredos minuciosos de como a Alemanha se preparou para enfrentar o coronavírus

A Alemanha registra até agora 141.672 casos do novo coronavírus, um aumento de 1.175 em 24 horas, o menor em quase um mês. O número de mortes contabilizadas nas últimas 24 horas também caiu: foram 110 óbitos desde domingo, a menor cifra em 15 dias, totalizando 4.404 mortes, segundo o Instituto Robert Koch. A proporção de infecção pessoa a pessoa, que calcula a média de infectados por cada paciente da Covid-19, também caiu a 0,7% na sexta-feira. Na semana passada, o ministro da Saúde, Jens Spahn, afirmou que a pandemia estava "sob controle" e "administrável".

— A etapa vencida é frágil —  advertiu no mesmo dia a chanceler, que passou duas semanas em quarentena em Berlim depois que teve contato com um médico que deu positivo para a Covid-19.

Esta é a primeira fase de um plano de desconfinamento elaborado pelo governo de Merkel em parceria com as autoridades dos 16 estados do país —  cada região dispõe de uma margem de manobra e pode tomar decisões autônomas.

Nesta segunda-feira, no entanto, a chanceler deixou claro seu temor de que os alemães possam baixar a guarda. Merkel expressou sua irritação durante uma discussão por videoconferência com os líderes do seu partido, a  conservadora  CDU.

Segundo fontes da agência AFP, a chanceler pediu especialmente o fim do que chamou de "orgias de discussões" no país sobre um possível desconfinamento total. De acordo com alguns integrantes da legenda, Merkel lamentou que muitos falem apenas sobre a suspensão das restrições.

—  O que importa agora é a evolução da situação até 30 de abril, data em que expiram as atuais normas de proteção — disse a chanceler na reunião.

. Foto: Arte
. Foto: Arte

A pandemia está causando bilhões de euros em perdas para cidades e municípios no país. A receita do imposto comercial – relacionado à renda e que os comerciantes devem pagar à municipalidade – caiu drasticamente em março, segundo dados do Ministério das Finanças divulgados pela agência alemã de notícias DPA. As cidades-estado de Berlim, Hamburgo e Bremen arrecadaram 70% menos impostos em comparação com março de 2019. Já nos estados restantes, a receita dos impostos comerciais caiu quase 60%.

Máscaras obrigatórias

De acordo com o programa previsto, as escolas e centros do ensino devem reabrir as portas em 4 de maio, começando pelos estudantes mais velhos. Merkel, no entanto, destacou que provavelmente será necessário aguardar até 8 ou 9 de maio para saber se, além da reabertura progressiva das escolas, será possível suspender outras restrições.

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Na região da Saxônia, no Leste, o uso de máscara ou de um pano cobrindo o rosto também tornou-se obrigatório a partir desta segunda-feira. Em Leipzig, uma das principais cidades do estado, as pessoas diante da estação de trem e nas ruas estavam quase todas com máscaras. As lojas abriram as portas após mais de um mês fechadas, com um número limitado de pessoas ao mesmo tempo em cada local. Os clientes aguardavam do lado de fora, respeitando a norma de distanciamento social.

— Não poderemos levar nossa antiga vida por muito tempo. O distanciamento e a proteção continuarão a reger a nossa vida diária —  advertiu Armin Laschet, que governa outra região afetada pela pandemia, Renânia do Norte-Westfalia, e candidato à presidência da CDU.

Na Baviera, um dos estados mais afetados, a retomada das atividades começa só na semana que vem, incluindo o reinício das aulas nas escolas. O uso de máscaras será obrigatório em todos os locais públicos.

Testes em massa

O bem-sucedido esforço alemão para combater o coronavírus levou o país a ser observado de perto por autoridades e especialistas de outros lugares. A Alemanha, que produz a maioria de seus próprios kits de alta qualidade, vem realizando testes em uma escala maior do que a maioria dos outros países do mundo —  120 mil por dia, em um país de 83 milhões de habitantes. No total, são realizados entre 500 mil e 600 mil exames por semana, muito mais do que nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo.

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Em Munique, cerca de 3 mil famílias foram escolhidas aleatoriamente para um estudo ambicioso, cujo objetivo central é entender quantas pessoas — mesmo as sem sintomas — já tiveram o vírus, uma variável-chave para tomar decisões sobre a vida pública em uma pandemia.

A meta é coletar amostras de toda a população em busca de anticorpos nos próximos meses, na esperança de obter informações sobre a profundidade da penetração do vírus na sociedade, o quão mortal ele realmente é, e se a imunidade pode estar se desenvolvendo.

— A Alemanha é o primeiro país olhando para o futuro — disse ao New York Times o professor Michael Hoelscher, que lidera o estudo de Munique, observando que vários países já lhe pediram que o modelo fosse capaz de ser replicado. — Estamos liderando o pensamento do que fazer em seguida.

Menos afetada pela pandemia do que outros países da União Europeia, e com mais unidades de terapia intensiva, a Alemanha recebeu nas últimas semanas pacientes do continente para aliviar os sistemas hospitalares de seus vizinhos.  Nesta segunda-feira, o governo anunciou que assumirá por conta própria o tratamento médico de pacientes europeus com a Covid-19 que precisam de assistência respiratória e que atualmente estão internados em seus hospitais. O custo desses pacientes chegaria a quase 20 milhões de euros, segundo o ministro da Saúde, Jens Spahn.

— A Alemanha trata mais de 200 pacientes europeus e tem, se necessário, a capacidade de acomodar mais —acrescentou.