A marca de um milhão de casos e 50 mil mortes alcançada logo após o mundo entrar no quarto mês após o começo da detecção da Covid-19 deve ser encarada como um símbolo, mas não como um retrato da cara feia desta pandemia. No cenário global de subnotificação e falta de testagem em larga escala, o mundo já passou silenciosamente pela casa do milhão há dias.
E mantido o ritmo exponencial de crescimento da pandemia estamos só no início da escalada de uma montanha de casos. Na taxa corrente de crescimento, teremos cinco milhões de casos daqui a uma semana. O número global impressiona, mas não mostra também as várias epidemias dentro de cada país.
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Explosão de casos nos EUA porque os americanos começaram a testar em massa. Explosão de mortes na Espanha e na Itália porque ambas não testaram em massa. Números incertos no Brasil porque ainda não testamos em massa e nem sequer conseguimos notificar os casos suspeitos direito. São muitas epidemias dentro da grande pandemia.
Mas o coronavírus não conhece fronteiras, ignora governantes. Ele continuará a se espalhar e enquanto houver países sem medidas de contenção, enquanto faltar testagem em massa.
Como bem lembrou o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, nas últimas cinco semanas o coronavírus acelerou sua expansão e o número de mortes mais do que dobrou em uma semana.
Um milhão é uma marca sim, do início da escalada.
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A gripe espanhola, esquecida por um século e agora lembrada a todo instante, matou 50 milhões de pessoas entre 1918 e 1919. “Mas eram outros tempos. Não se sabia nada de influenza. Tinha 20 anos que vírus tinham sido descobertos. Guardas e enfermeiros usavam máscara deixando nariz de fora. Era outro mundo”, diz a virologista Clarissa Damaso.
A ciência, a única que pode combater a Covid 19, evoluiu muito, mas nunca foi prioridade. A ciência alertou e foi ignorada, tratada como agenda de segunda classe. E estamos todos agora, governantes, milionários e miseráveis, de joelhos na frente de um inimigo invisível.