Mundo Coronavírus

Apesar do surto de Ômicron, internações permanecem baixas na África do Sul

Apenas 1,7% dos diagnósticos na segunda semana da nova onda precisaram ser hospitalizados, uma fração do número registado no mesmo período da Delta
Adolescente é vacinado contra a Covid-19 em Johanesburgo; segundo especialistas, vacinação continua a ser arma mais eficaz contra a pandemia Foto: SUMAYA HISHAM / REUTERS
Adolescente é vacinado contra a Covid-19 em Johanesburgo; segundo especialistas, vacinação continua a ser arma mais eficaz contra a pandemia Foto: SUMAYA HISHAM / REUTERS

JOHANESBURGO — O governo da África do Sul informou nesta sexta-feira uma queda significativa nas taxas de internação em comparação com variantes anteriores à Ômicron , além de sinais de que o surto atual de Covid-19 pode estar em seu pico . Notificada há pouco menos de um mês à Organização Mundial da Saúde (OMS), a nova cepa se dissemina rapidamente pelo planeta, que corre para tentar entendê-la melhor.

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Apenas 1,7% dos sul-africanos diagnosticados com Covid na segunda semana de infecções da quarta onda precisaram ser internados. O número é uma fração dos 19% que foram registrados no mesmo período do surto anterior, causado pela Delta, disse o ministro da Saúde, Joe Phaala, em uma entrevista coletiva.

Os dados endossam os relatos de autoridades locais de saúde de que os sintomas causados pela Ômicron são, em geral, mais leves que os vistos em momentos anteriores da pandemia. Especialistas, contudo, alertam contra conclusões precipitadas, e dissem que isso também sinaliza que as vacinas e infecções prévias garantem ao menos alguma proteção contra casos graves e mortes:

— Acreditamos que a Ômicron não é necessariamente que a Ômicron seja menos virulenta, mas a cobertura vacinal e a imunidade natural das pessoas que já contraíram o vírus também está somando à proteção — disse Phaala. — É por isso que estamos vendo apenas casos leves.

A taxa de vacinação da África do Sul ainda é significativamente baixa: apenas 44% da população adulta tomou ao menos uma dose anti-Covid, número maior que o da grande maioria dos países africanos, mas bem aquém do necessário. Entre as pessoas com mais de 50 anos, a cobertura vacinal é superior a 60%, mas entre os sul-africanos de todas as idades, apenas 30,9% tomaram ao menos uma dose e 25,9% tomaram as duas.

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A baixa imunização entre os jovens, o grupo mais afetado nesta nova onda, também pode mascarar a real gravidade da nova cepa, apontam especialistas, por serem menos sujeitos a complicações. Outros fatores que complicam conclusões são o fato da população sul-africana ser muito jovem — apenas 5,5% deles têm mais de 65 anos —, e estimativas de que entre 70% e 80% dos habitantes do país já tiveram Covid-19 e, portanto, podem ter algum nível de anticorpo.

A África do Sul, ainda assim, é observada de perto por outros países, que tentam prever o que os espera nas próximas semanas e meses, especialmente enquanto os laboratórios começam a divulgar informações preliminares sobre a resposta da Ômicron às vacinas. Os dados iniciais mostram que há um escape vacinal significativo com duas doses, mas que a variante responde bem ao reforço, o que vem levando muitos governos a acelerarem a distribuição das terceiras doses.

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Números inflados

Apesar da queda das internações, a média de casos diagnosticados na segunda semana da onda causada pela Ômicron ultrapassaram 20 mil, em comparação com 4,4 mil no mesmo período do surto causado pela Delta. É uma evidência de que a cepa tem maior transmissibilidade do que outras formas do vírus, constatação similar à de países como o Reino Unido, que também vê um aumento exponencial dos casos.

Há atualmente cerca de 7,6 mil pessoas internadas com Covid na África do Sul, cerca de 40% do pico registrado na segunda e na terceira onda. O excesso semanal de mortes, medida que compara os óbitos com a média histórica, é um oitavo do que foi no surto anterior.

— Estamos de verdade vendo aumentos muito pequenos no número de mortes — disse Michelle Groome, chefe de vigilância sanitária do Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis, na mesma entrevista coletiva.

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De acordo com os funcionários de saúde, o número de internações neste novo surto também está sendo inflado por pacientes com quadros mais leves da doença. Em surtos anteriores, com a sobrecarga dos hospitais, seriam mandados para casa, mas agora há espaço para acolhê-los. Muitos pacientes também estão lá por outros motivos, e acabam tendo resultados positivos nos testes que são realizados rotineiramente.

— Vemos uma queda da proporção de pessoas que precisam receber oxigênio para ajudá-las a respirar — disse Waasila Jassat, pesquisadora do Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis. — Pela primeira vez, há mais pacientes com quadros não graves do que graves no hospital. (Com agências internacionais)