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Assassinatos de pessoas negras expõem racismo nos EUA: relembre

Segundo levantamento, população negra no país tem três vezes mais chances de ser assassinada pela polícia do que os brancos
De máscara, manifestante contra a morte de George Floyd se posiciona frente à polícia de Minneapolis Foto: KEREM YUCEL / AFP
De máscara, manifestante contra a morte de George Floyd se posiciona frente à polícia de Minneapolis Foto: KEREM YUCEL / AFP

RIO — As tensões raciais nos Estados Unidos voltaram à tona nesta semana , após o assassinato de George Floyd , um homem negro de 46 anos, por um policial branco em Minneapolis, no estado de Minnesota. Um vídeo divulgado na terça-feira mostra o homem sendo sufocado, sob o joelho de um policial, por cerca de oito minutos. Outros três agentes acompanhavam a cena, mas ficaram parados enquanto a vítima dizia que não era capaz de respirar. Uma segunda gravação, que supostamente foi realizada minutos antes da primeira, parece mostrar dois destes oficiais também ajoelhados sobre o homem.

Em repúdio à morte de Floyd, protestos tomam as ruas de Minneapolis e do país há três noites consecutivas, cenário similar ao visto com certa frequência na História recente dos EUA. Segundo um levantamento feito pelo projeto “Mapeando a Violência Policial”, a população negra tem três vezes mais chances de ser assassinada pela polícia no  território americano do que os brancos. Conheça alguns dos casos mais recentes que expõem o racismo nos Estados Unidos:

Breonna Taylor

Breonna Taylor, de 26 anos, foi assassinada em sua casa , na madrugada do dia 13 de março, durante uma operação para desmantelar o tráfico de drogas em Louisville, Kentucky. Segundo a polícia, agentes bateram na porta da mulher diversas vezes para anunciar sua presença. Como não houve resposta, invadiram a casa, onde foram recebidos com tiros. Um policial foi baleado na perna.

O namorado dela, Kenneth Walker, afirma ter atirado em autodefesa, pois a polícia não avisou antes de invadir a casa. Em meio a questionamentos sobre a conduta policial, a Procuradoria do Kentucky abandonou as acusações contra Walker. Em paralelo aos protestos contra o assassinato de Floyd, atos em repúdio à morte de Taylor também foram registrados em Louisville na quinta-feira, onde ao menos sete pessoas foram baleadas. Duas  delas precisaram passar por cirurgias.

Ahmaud Arbery

Em 23 de fevereiro, o jovem negro Ahmaud Arbery, de 25 anos, fazia jogging na região de Brunswick, na Geórgia, quando foi confrontado por dois homens brancos, Travis McMichael, ex-policial, e seu pai, Gregory. Segundo a polícia local, Gregory disse que Arbery se parecia com um homem que era procurado na região. Ele disse ainda que o jovem agrediu primeiro seu filho, mas não há provas disso até o momento. Arbery tentou lutar com Travis, que estava armado, mas três tiros foram disparados antes que ele caísse sem vida. Segundo o advogado da família Arbery, o incidente está sendo investigado como um crime de ódio.

Ahmaud Arbery, em foto divulgada pela sua família Foto: Reprodução
Ahmaud Arbery, em foto divulgada pela sua família Foto: Reprodução

Thurman Blevins

Há pouco menos de dois anos, Thurman Blevins, de 31 anos, foi morto pela polícia em Minneapolis, incidente que também despertou protestos na cidade. Blevins estava sentado no meio-fio com um cachorro quando dois policiais se aproximaram, após receberem denúncias de que ele estaria armado. O homem correu e, depois de capturado, implorou para que os policiais não atirassem, mas isto não aconteceu. Meses depois, a Justiça optou por não apresentar acusações formais contra os dois policiais envolvidos.

Um ano antes, no entanto, houve o caso de Justine Ruszczyk, uma mulher branca que foi morta a tiros por um policial negro em 2017, e cuja família recebeu US$ 20 milhões em um acordo com a cidade três dias depois que o policial foi condenado por assassinato.

Segundo o “Mapeando a Violência Policial”, entre 2013 e 2019, 99% dos oficiais envolvidos em assassinatos durante o serviço nos EUA não foram punidos criminalmente.

Philando Castile

Philando Castile , um homem negro de 32 anos, foi abordado enquanto dirigia na cidade de Minnesota, com sua namorada, Diana Reynolds , e a filha de 4 anos da mulher, em julho de 2016. Ao ser parado pelo policial Jeronimo Yanez, de 29 anos, ele alertou que havia uma arma no carro. Quando Castile se movimentava para pegar os documentos requeridos pelo policial, no entanto, Yanez acreditou que ele buscaria o revólver e disparou sete tiros à queima-roupa. O caso ganhou notoriedade particular porque Reynolds fez uma transmissão ao vivo em seu Facebook logo após o ocorrido, relatando o que havia acontecido.

Jovem negro foi executado pela polícia nos EUA Foto: Philando Castile, morto após ser abordado por um policial / Reprodução
Jovem negro foi executado pela polícia nos EUA Foto: Philando Castile, morto após ser abordado por um policial / Reprodução

Eric Garner

Eric Garner, de 43 anos, morreu na cidade de Nova York, em julho de 2014, após ser sufocado por policiais brancos que o detiveram sob a suspeita de vender cigarros contrabandeados. Enquanto era imobilizado, imagens da cena mostram Garner repetir 11 vezes a frase “eu não consigo respirar”. Ele foi declarado morto cerca de uma hora depois em um hospital da região. A autópsia declarou sua morte como um homicídio. Em agosto de 2014, um júri decidiu não indiciar o policial envolvido. O oficial, Daniel Pantaleão, foi demitido em 2019 .

Os assassinatos de Garner e Michael Brown foram responsáveis pela popularização do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), campanha que denuncia a violência e o racismo sistêmico nos EUA.

Eric Garner e sua mulher, Esaw, durante férias em 2011 Foto: New York Times
Eric Garner e sua mulher, Esaw, durante férias em 2011 Foto: New York Times

Michael Brown

Michael Brown , de 18 anos, foi morto pelo policial branco Darren Wilson na cidade de Ferguson, em Missouri, um subúrbio de St. Louis, em agosto de 2014. Segundo o policial, Brown tentou atacá-lo, mas um amigo do jovem, que o acompanhava, disse que Wilson agarrou a vítima pelo pescoço de dentro da janela da viatura e ameaçou atirar contra ela. Ao todo, 12 tiros foram disparados, seis dos quais atingiram o adolescente. O assassinato  gerou uma onda de protestos em Ferguson, que viram uma segunda onda no final de 2014, após Wilson ser inocentado. Segundo a investigação, não há provas de que Brown teria se rendido ou pedido para não atirar, conforme o amigo do jovem afirmara.

Mortos por policiais. Foto: Michael Brown, durante sua formatura na escola / Reprodução
Mortos por policiais. Foto: Michael Brown, durante sua formatura na escola / Reprodução

Trayvon Martin

Trayvon Martin , de 17 anos, foi assassinado em 26 de fevereiro de 2012 em Sanford, na Flórida, quando voltava para a casa de sua madrasta após ir a uma loja de conveniência. Um integrante da vigilância comunitária, George Zimmerman, viu o adolescente e o denunciou para a polícia como uma pessoa suspeita. Minutos depois, houve uma altercação física entre os dois e Martin foi baleado no peito. O caso teve repercussão internacional e gerou protestos ao redor dos Estados Unidos, pedindo que Zimmermann fosse punido.

O assassinato gerou um debate sobre perfilamento racial que pautou inclusive a eleição presidencial daquele ano, quando Barack Obama foi reeleito. Em 2013, Zimmermann foi inocentado por um júri, que considerou sua ação um ato de autodefesa, decisão que desencadeou novos protestos pelo país.