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Bem-sucedida contra coronavírus, Coreia do Sul é o primeiro país a votar durante pandemia

Sob apreensão e com uma série de medidas restritivas, nação asiática que chegou a ser 2º foco da doença elege Parlamento hoje; presidente recupera popularidade por implementar estratégia contra Covid-19
Apoiadores da oposição fazem campanha usando máscara em Seul Foto: JUNG YEON-JE / AFP
Apoiadores da oposição fazem campanha usando máscara em Seul Foto: JUNG YEON-JE / AFP

Seul - Nesta quarta-feira, exatos 85 dias após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 na Coreia do Sul , o país será palco das primeiras eleições em nível nacional do planeta desde a chegada da pandemia: os sul-coreanos vão eleger os 300 membros de seu Parlamento. O resultado do pleito, pelo que indicam as pesquisas, irá refletir a avaliação popular sobre o desempenho do governo no controle do novo coronavírus, que teve percurso dramático no país.

No início de março, a Coreia do Sul chegou a ser o segundo maior foco mundial da doença, atrás só da China. Naquele momento, não foram poucos os que criticaram duramente a administração de centro-esquerda do presidente Moon Jae-in, que já vinha sofrendo queda de popularidade pelas crescentes taxas de desemprego.

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Moon chegou a se deparar com mais de 1 milhão e meio de assinaturas em uma petição para seu impeachment. Hoje, contudo, após uma drástica mudança das políticas públicas no combate ao vírus, que combinaram táticas de testagem em massa, transparência de informação e medidas de auxílio econômico emergencial, as taxas de contaminação do país despencaram e a mortalidade foi mantida em nível surpreendentemente baixo (apenas 222 óbitos em quase três meses de crise).

Não apenas a Coreia do Sul se tornou internacionalmente objeto de elogios no combate ao vírus, como também Moon e seu partido passaram abruptamente a gozar de avaliações favoráveis pelo público e nas projeções eleitorais. O presidente saltou de 30% de aprovação no começo do ano para mais de 51% no início de abril, enquanto as pesquisas preveem não apenas a manutenção dos 120 assentos que seu partido ocupa no Parlamento, como também uma substantiva expansão. As projeções mais pessimistas citam a adição de ao menos 25 novas cadeiras, e as mais otimistas, 60, dados recebidos com descontentamento pela oposição conservadora, fragmentada desde o impeachment da ex-presidente Park Geun-hye, em 2017.

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Apesar do cenário esperançoso na luta contra o vírus que a Coreia do Sul tem apresentado, a realização do pleito não é feita sem considerável nível de apreensão. No momento, pelo menos outros 47 países — incluindo França, Reino Unido e Sri Lanka — adiaram eleições como medida de prevenção contra a Covid-19.

Lembrança da ditadura

Duyeon Kim, especialista da organização International Crisis Group em Seul, disse ao jornal Financial Times que, embora haja uma justificativa legal para adiar as eleições — a contenção dos riscos à saúde — esse movimento encontraria oposição feroz no país.

— Como a Coreia do Sul já esteve sob regime militar, há uma reação alérgica ao autoritarismo. Na psiquê sul-coreana, adiar as eleições está fora de questão — afirmou.

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Para garantir a segurança dos cidadãos, medidas especiais foram tomadas. Mais de 11 milhões de eleitores — aproximadamente 26,7% dos registrados — foram incentivados a votar com antecedência pelo correio e em datas alternativas fornecidas pelo poder público na semana passada. Os eleitores que optarem pelo voto presencial hoje (a data é feriado no país) terão suas temperaturas verificadas na entrada das seções, e deverão usar álcool em gel para as mãos, além de luvas descartáveis fornecidas pelas zonas eleitorais. As cabines de votação serão desinfetadas após cada voto.

Eleitores em quarentena obrigatória — diagnosticados com o vírus ou recém-chegados de viagens internacionais — também poderão votar, mas sob procedimentos restritos. Eles só serão autorizados a ficar na rua por 1h40m logo após o fechamento das urnas para os demais, devem usar máscaras e se deslocar a pé ou de carro, além de ser monitorados por um aplicativo de rastreamento ou por uma escolta de agentes públicos, dependendo de sua jurisdição.