Mundo Coronavírus

Boris Johnson afirma que médicos se prepararam para a sua possível morte por coronavírus

Em entrevista a tabloide, primeiro-ministro britânico comentou a angústia vivida na UTI
Boris Johnson fotografado no último dia 29 Foto: PIPPA FOWLES / AFP
Boris Johnson fotografado no último dia 29 Foto: PIPPA FOWLES / AFP

LONDRES —  Antes de apresentar o plano de afrouxamento nas regras de isolamento para o Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson declarou estar determinado a combater o vírus depois de ter sofrido com a doença. Ao comentar a experiência numa entrevista publicada neste domingo, ele disse que médicos chegaram a se preparar para a possibilidade de sua morte.

As afirmações foram feitas ao tabloide The Sun. Johnson, que tem 55 anos, relatou em detalhes a sua experiência com a doença, declarando-se "movido pelo desejo" de colocar o seu país "de pé", do mesmo jeito que ele superou o vírus, após sua sua internação numa UTI.

—  Foi um momento difícil, não vou negar —  explicou.

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Segundo ele, os médicos "tinham uma estratégia para lidar com um cenário tipo o 'A morte de Stálin'". A citação faz referência ao filme de comédia do diretor britânico Armando Iannucci.

—  Sabia que não estava num estado particularmente brilhante e que havia planos de emergência em curso. Os médicos tinham todos os tipos de preparativos sobre o que fazer se tudo desse errado —  acrescentou o primeiro-ministro.

Boris Johnson anunciou que havia contraído a doença no dia 27 de março, dizendo que tinha apenas sintomas leves. Em 5 de abril, foi levado a um hospital público para tratamentos de precaução e, em 24 horas, precisou ser transferido para a unidade de terapia intensiva.

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Na entrevista, Johnson também admite que chegou a negar a gravidade de sua condição.

—  Olhando para trás, (os médicos) estavam certos em me forçar (a ir para o hospital) —  reconheceu.

Ele ficou ciente da situação quando os médicos consideraram usar um respirador artificial. O líder do Partido Conservador passou três dias recebendo oxigênio. Quando recebeu alta, em 12 de abril, disse que o resultado "poderia ter sido de um jeito ou de outro".

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Ele disse ao jornal que nunca pensou que iria morrer, mas estava frustrado por não estar melhorando. Animadamente, descreveu sua cura como "algo extraordinário".

O primeiro-ministro voltou a trabalhar na segunda-feira, dois dias antes de sua noiva dar à luz seu filho, cujo terceiro nome — o nome do garoto é Wilfred Lawrie Nicholas Johnson — presta homenagem a dois dos médicos que o trataram, Nick Price e Nick Hart. Quando recebeu alta, Boris também agradeceu aos enfermeiros que cuidaram dele, incluindo um português e uma neozelandeza, e disse que devia sua vida ao Serviço Nacional de Saúde britânico, que inspirou o SUS brasileiro.

Afrouxamento

Com um total de 28.131 mortes registradas até sábado, o Reino Unido é o segundo país com mais vítimas da Covid-19 na Europa, depois da Itália. O primeiro-ministro planeja anunciar um "roteiro", ao longo desta semana, para aliviar as restrições em vigor desde 23 de março e prolongadas até 7 de maio.

A população agora pode sair para fazer compras, ir ao médico ou se exercitar uma vez por dia. Mas as autoridades temem que um relaxamento do confinamento leve a um novo surto da doença. Uma das possibilidades em estudo é a quarentena de quem chega do exterior.

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—  É importante garantir que os sacrifícios que pedimos aos britânicos, como o distanciamento social, também sejam feitos por quem vem ao país —   disse à BBC o ministro dos Transportes, Grant Shapps.

Dadas as incertezas sobre o futuro, o governo planejou contratar 18 mil pessoas até meados de maio para consolidar sua estratégia de realizar testes e monitoramento de infectados, por meio de um aplicativo desenvolvido pelos serviços de saúde britânicos.

De acordo com uma pesquisa realizada no domingo pelo jornal The Observer, 67% dos britânicos consideram prematuro reabrir escolas, restaurantes e estádios.